segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Quem cuida dos Cuidadores ?


QUEM CUIDA OS CUIDADORES?

Esta pergunta circundou os profissionais do Projeto Social Educando para a Cidadania e Solidariedade, em Esteio/RS. A grande resposta foi procurada juntos: refletindo, estudando, planejando, avaliando a realidade. Desta abertura para 'fazer juntos' surgiram estudos sobre a Ecopedagogia durante o ano de 2005, paralelo ao desenvolvimento do tema da Campanha de Fraternidade - FELIZES OS QUE PROMOVEM A PAZ.

"Entendemos que nossa primeira grande busca deve ser a Paz Interior, para auxiliar no exterior."

"RESGATANDO O SENTIDO DA VIDA -

de Sandra Magalhães Albetino, de Londrina/PR, escreveu para o Jornal Corujinha (2005 nº 52)

Os desafios da crise de passagem que atravessamos nos convoca a descobrir novas propostas. Elas não devem ser procuradas no mundo esterno, mas no interior de cada ser humano. Os avanços científicos, o uso incoseqüente dos meios naturais e tecnológicos vem provocando a escasses dos elementos básicos para nossa sobrevivência e exaurindo o equilíbrio físico-químico da Terra. A atitude utilitária, desencadeada pelo estilo de vida competitivo e direcionado para o prazer, converte tudo em objeto de lucro e de posse. Como resultado desse consumismo desenfreado, vemos a destruição dos ecossistemas planetários, o abismo cada dia maior entre excluídos e incluídos, a degradação dos valores, e outras tantas doenças do TER e do esquecimento do SER. Investir na cultura do ser, no resgate profundo sentido da vida é missão de todos. Colocar ordem, equilíbrio e harmonia em nosso interior, inocular qualidade em nossos pensamentos, emoções, atitudes e ações é uma tarefa prioritária. Enquanto educadores, trabalhando em comunidades de aprendizagem, temos um espaço privilegiado de participação no desenvolvimento humano. Este privilégio implica na grande responsabilidade de facilitar aos educandos o auto-conhecimento, a prática da autocrítica, a autoria de seu próprio processo de transformação, a receptividade à ação do outro, a interação com o meio... Precisamos estar conscientes que só desencadearemos esse processo se o estivermos vivenciando em nosso interior. É primordial investirmos constantemente em nós mesmos, nos talentos que nos foram confiados, em nossa plenitude como seres humanos, para que possamos alcançar nossa plenitude enquanto educadores."

"...desafio a todos aqueles professores ...que querem assumir o compromisso com uma sociedade mais justa, desenvolvendo a sua ação pedagógica dentro e fora da escola conhecendo, porém, os limites da educação no conjunto geral das práticas sociais."
PAULO FREIRE no livro MEDO E OUSADIA.

Ecopedagogia trata da pedagogia orientada para a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida quotidiana, tendo como objetivo a promoção das sociedades sustentáveis. O conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire na Costa Rica, segue os princípios da "Carta da Terra", documento anunciado em março de 2000 pela Unesco e deverá ser adotado pela ONU com o mesmo valor da "Declaração dos Direitos Humanos". A "Carta da Terra" foi aprovada por um fórum da sociedade civil, com representante de todos os povos, e, por isso, conseguiu o status de documento da "cidadania planetária". A ecopedagogia trabalha com a fundamentação teórica dessa "cidadania planetária" cuja idéia é dar sentido para a ação dos homens enquanto seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência do planeta Terra. Ou seja, constitui-se um verdadeiro movimento político e educativo cujo projeto é mudar as atuais relações humanas, sociais e ambientais. A promoção das sociedades sustentáveis e a preservação do meio ambiente depende, de acordo com a ecopedagogia, de uma consciência ecológica e a formação dessa consciência depende da educação.
http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario

SUSTENTABILIDADE

estudos apresentados por Janete, Marli, Ir. Sibila, Ir. Maria

Sustentar: segurar por baixo, servir de escora, suportar.
•Sustentabilidade: um dos pilares da ecopedagogia, não têm haver apenas com biologia, economia e a ecologia. Tem haver com a relação que mantemos como nós mesmos com os outros e com a natureza. Conforme Gadotti
O cenário não é otimista - Podemos destruir toda a vida no planeta neste milênio que se inicia. Uma ação conjunta é necessária ... E fundamentada em outros princípios éticos que não os baseados na exploração econômica, na dominação política e na exclusão social”

Paradigma Clássico - Visão industrialista predatória desenvolvimentalista que não da conta de explicar o momento presente e responder necessidades futuras. Precisamos construir um novo paradigma que seja fundamentado na visão sustentável do planeta terra.


Visão Sustentável - Visão que o cidadão local assume também a identidade indispensável de cidadão planetário, com uma consciência voltada para o cuidado do próprio corpo, sem o esquecimento da comunidade. Enfim , o cuidado de si mesmo sem o esquecimento do outro; Seja ele quem for, esteja onde estiver.


A sustentabilidade depende da capacidade da organização de estabelecer relações com indivíduos e organizações de todos os setores da sociedade. Os dirigentes de Organizações da Sociedade Civil devem ter duas funções primordiais:
ØExercer seu papel de liderança;
ØSer gestores competentes.

Sustentabilidade é um processo, não um estado que se atinge e se mantém.
ØAvalie constantemente se está no caminho certo.
ØLembre-se que está lidando com pessoas e não apenas com instituições.
ØTrabalhe para a formação de parcerias e não, apenas, a busca de doadores.
A sustentabilidade tornou-se um tema preponderante neste início de milênio, um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos,capaz de reacender a esperança em um futuropossível, com dignidade, para todos. A sustentabilidade não tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia; tem a ver com a relação que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza.

'Que sabe o rio disso e que sabe a árvore? E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?''Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.'
Fernando Pessoa


Artigo de Moacir Gadotti

professor titular da Universidade de São Paulo e diretor do Instituto Paulo Freire.

Artigo resultante de diversos debates promovidos em encontros e congressos, em particular: a Conferência Continental das Américas, realizada em Cuiabá (MT), em dezembro de 1998; o Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, organizado pelo Instituto Paulo Freire, com o apoio do Conselho da Terra e da UNESCO, realizado em São Paulo, de 23 a 26 de agosto de 1999, e o I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia, realizado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Portugal, de 24 a 26 de março de 2000.


Venho acompanhando o tema da educação ambiental desde 1992, quando representei a Internacional Community Education Association (ICEA) na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), chamada de Cúpula da Terra, que elaborou e aprovou a Agenda 21. No Fórum Global 92, na mesma época, participei, ao lado de Moema Viezer, Fabio Cascino, Nilo Diniz e Marcos Sorrentino, da coordenação da Jornada Internacional de Educação Ambiental, que elaborou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.
Três décadas de debates sobre 'nosso futuro comum' deixaram algumas pegadas ecológicas, tanto no campo da economia quanto no campo da ética, da política e da educação, que podem indicar-nos um caminho diante dos desafios do século XXI. A sustentabilidade tornou-se não só um tema gerador preponderante neste início de milênio para pensar o planeta, mas também um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperança em um futuro possível, com dignidade, para todos.
O cenário não é otimista: podemos destruir toda a vida no planeta neste milênio que se inicia. Uma ação conjunta global é necessária, um movimento como grande obra civilizatória de todos é indispensável para realizarmos essa outra globalização, essa planetarização, fundamentada em outros princípios éticos que não os baseados na exploração econômica, na dominação política e na exclusão social. O modo pelo qual vamos produzir nossa existência neste pequeno planeta decidirá sobre a sua vida ou a sua morte, bem como a de todos os seus filhos e filhas. A Terra deixou de ser um fenômeno puramente geográfico para se tornar um fenômeno histórico.
Os paradigmas clássicos, fundados em uma visão industrialista predatória, antropocêntrica e desenvolvimentista, estão esgotando-se, não dando conta de explicar o momento presente e de responder às necessidades futuras. Precisamos de um outro paradigma, fundado em uma visão sustentável do planeta Terra. O globalismo é essencialmente insustentável. Ele atende primeiro às necessidades do capital e depois às necessidades humanas. E muitas das necessidades humanas a que ele atende tornaram-se 'humanas' apenas porque foram produzidas como tais para servirem ao capital.
Precisamos de uma 'Pedagogia da Terra', uma pedagogia apropriada a esse momento de reconstrução paradigmática, apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz. Ela vem constituindo-se gradativamente, beneficiando-se de muitas reflexões que ocorreram nas últimas décadas, principalmente no interior do movimento ecológico. Ela se fundamenta em um paradigma filosófico (Paulo Freire, Leonardo Boff, Sebastião Salgado, Boaventura de Sousa Santos, Milton Santos, Aziz Ab’Sáber, Thomas Berry, Fritjop Capra, Edgar Morin) emergente na educação que propõe um conjunto de saberes/valores interdependentes. Entre eles podemos destacar:
Educar para pensar globalmente: na era da informação, diante da velocidade com que o conhecimento é produzido e envelhece, não adianta acumular informações. É preciso saber pensar. E pensar a realidade, não pensamentos já pensados. Daí a necessidade de recolocarmos o tema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, das metodologias, da organização do trabalho na escola.
Educar os sentimentos: o ser humano é o único ser vivente que se pergunta sobre o sentido de sua vida. É necessário educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido em cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos, e não apenas porque pensamos. Somos parte de um todo em construção.
Ensinar a identidade terrena como condição humana essencial: nosso destino comum é compartilhar com todos nossa vida no planeta. Nossa identidade é ao mesmo tempo individual e cósmica. É preciso educar para conquistar um vínculo amoroso com a Terra, não para explorá-la, mas para amá-la.
Formar para a consciência planetária: é preciso compreender que somos interdependentes. A Terra é uma só nação e nós, os terráqueos, os seus cidadãos. Não precisaríamos de passaportes. Em nenhum lugar na Terra deveríamos considerar-nos estrangeiros. Separar primeiro de terceiro mundo significa dividir o mundo para governá-lo a partir dos mais poderosos; essa é a divisão globalista entre globalizadores e globalizados, o contrário do processo de planetarização.
Formar para a compreensão: é necessário formar para a ética do gênero humano, não para a ética instrumental e utilitária do mercado. No mesmo sentido, é necessário educar para se comunicar, não comunicar para explorar, para tirar proveito do outro, mas para compreendê-lo melhor. A Pedagogia da Terra funda-se nesse novo paradigma ético e em uma nova inteligência do mundo. Inteligente não é aquele que sabe resolver problemas (inteligência instrumental), mas aquele que tem um projeto de vida solidário, porque a solidariedade não é hoje apenas um valor, e sim condição de sobrevivência de todos.
Educar para a simplicidade e para a quietude: nossas vidas precisam ser guiadas por novos valores, como simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartilhar, descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsável frente à cultura dominante, que é uma cultura de guerra, de competitividade sem solidariedade, e passar de uma responsabilidade diluída a uma ação concreta, praticando a sustentabilidade na vida diária, na família, no trabalho, na escola, na rua. A simplicidade não se confunde com a simploriedade e a quietude não se confunde com a cultura do silêncio. A simplicidade deve ser voluntária, como a mudança de nossos hábitos de consumo, reduzindo nossas demandas. A quietude é uma virtude conquistada com a paz interior e não com o silêncio imposto.
É claro, tudo isso supõe justiça, e justiça supõe que todas e todos tenham acesso à qualidade de vida. Seria cínico falar de redução de demandas de consumo, atacar o consumismo, falar de consumismo aos que ainda não tiveram acesso ao consumo básico. Não existe paz sem justiça.
Diante do possível extermínio do planeta, surgem alternativas em uma cultura da paz e uma cultura da sustentabilidade. A sustentabilidade não tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia; tem a ver com a relação que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza. A pedagogia deveria começar por ensinar sobretudo a ler o mundo, como nos diz Paulo Freire, o mundo que é o próprio universo, porque é ele nosso primeiro educador. Essa primeira educação é uma educação emocional, que nos coloca diante do mistério do universo, na intimidade com ele, produzindo a emoção de nos sentirmos parte desse sagrado ser vivo e em evolução permanente.
Não entendemos o universo como partes ou entidades separadas, mas como um todo sagrado, misterioso, que nos desafia a cada momento de nossas vidas, em evolução, em expansão, em interação. Razão, emoção e intuição são partes desse processo, em que o próprio observador está implicado. O paradigma Terra é um paradigma civilizatório. E, como a cultura da sustentabilidade oferece uma nova percepção da Terra, considerando-a como uma única comunidade de humanos, ela se torna básica para uma cultura de paz.
O universo não está lá fora. Está dentro de nós. Está muito próximo de nós. Um pequeno jardim, uma horta, um pedaço de terra é um microcosmos de todo o mundo natural. Nele encontramos formas de vida, recursos de vida, processos de vida. A partir dele podemos reconceitualizar nosso currículo escolar. Ao construí-lo e ao cultivá-lo, podemos aprender muitas coisas. As crianças o encaram como fonte de tantos mistérios! Ele nos ensina os valores da emocionalidade com a Terra: a vida, a morte, a sobrevivência, os valores da paciência, da perseverança, da criatividade, da adaptação, da transformação, da renovação... Todas as nossas escolas podem transformar-se em jardins e os professores-alunos, os educadores-educandos em jardineiros. O jardim ensina-nos ideais democráticos: conexão, escolha, responsabilidade, decisão, iniciativa, igualdade, biodiversidade, cores, classes, etnicidade e gênero.
Estamos diante do crescimento incessante e paralelo entre a miséria e a tecnologia: somos uma espécie de sucesso no campo tecnológico, porém muito malsucedida no governo do humano. Vivemos na era da informação, mas não do conhecimento e da comunicação. As tecnologias da comunicação não significam comunicação humana. Por isso, temos necessidade de uma 'esfera pública cidadã' (Jürgen Habermas), uma esfera pública de decisão não-estatal; precisamos, como diz Adela Cortina, de uma 'ética pública cívica', fundada em uma sociedade pluralista (por exemplo, respeitar respostas distintas a perguntas sobre a vida, isto é, praticar o pluralismo ético), na convivência autêntica ('viver juntos e não apenas se justapor'), na construção coletiva ('tarefa a realizar permanentemente, pois os pontos de convergência não são automáticos') e no descobrimento mútuo e no diálogo ('buscar o que temos em comum').
'Carta' significa 'mapa', um mapa para nos guiar nessa travessia conturbada. Nesse sentido, a Carta da Terra precisa ser considerada como um código de ética planetária a nos guiar hoje para um mundo onde predominem os valores da solidariedade e da sustentabilidade, um projeto, um movimento, um processo que pode transformar o risco de extermínio em oportunidade histórica, transformar o temor em esperança. Adotar e promover a prática de seus valores não pode ser apenas o compromisso de estados e nações, e sim de cada ser humano, individual, pessoal, como sujeito da história, como vem promovendo o Manifesto 2000 da Unesco. Precisamos de uma cultura de paz com justiça social para enfrentar a barbárie. Se aceitamos a barbárie, acostumamo-nos a um cotidiano de violência e de insustentabilidade.
No livro Pedagogia da Terra, defendemos a necessidade de uma Carta da Terra associada a um processo de paz, a uma cultura de paz. E, como a Carta da Terra é um documento ético, ela precisa da educação para se tornar cada vez mais conhecida. Contudo, precisamos de mudança não só na consciência das pessoas, mas também de mudanças estruturais no campo econômico, como as propostas pela Agenda 21. A Carta da Terra precisa estar associada à Agenda 21 e ter um grande suporte na sociedade civil. Os governos podem assinar tratados, podem adotar a Carta da Terra, porém não cumprirão suas promessas se a sociedade civil não estiver vigilante e não pressionar os governantes para que eles cumpram o que assumiram. O que foi socialmente construído pode ser socialmente transformado. Um outro mundo é possível. Uma outra globalização é possível. Precisamos chegar lá juntos e, sobretudo, em tempo.

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