domingo, 4 de outubro de 2009

Oficinas em Ecopedagogia

A Escola de Educação Infantil Cofrinho de Mel - Canoas/RS - busca atender profissionais ligados à educação infantil que buscam pelo aprimoramento em sua área de atuação, através de oficinas e cursos.

É o setor de formação continuada da Escola, considerando a LDB nº 9394/96 que define no inciso III, do art. 63, “programas de formação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis”.

Informações:


Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser do lutador pertinaz que cansa, mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar.(FREIRE, Paulo, 1996)

O lançamento ocorreu no sábado 03/09/09 com a oficina ECOPEDAGOGIA - A pedagogia do Cuidar - que reuniu profissionais de Canoas, Porto Alegre, Esteio e Cachoeirinha.

Porto Alegre é exemplo na Agenda 21

Papéis ao vento:
Que fim levaram os principais documentos da ECO-92?
Um dos principais documentos aprovados na ECO-92 não tem força jurídica. É a Agenda 21, um programa de ações rumo ao desenvolvimento sustentável. "Ela é um instrumento fundamental para um país que perdeu a capacidade de planejar", explica Aspásia Camargo, secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente. Mas aí vem a pergunta: se é fundamental, por que o Brasil ainda não tem a sua Agenda 21?
Até o ano passado, a maioria dos países e municípios deveria ter feito uma consulta popular para chegar à sua versão personalizada e consensual. Entretanto, apenas 40 países têm sua Agenda 21 nacional. Alguns deles, como a China, têm seus esforços olhados com desconfiança, pois seu processo não foi considerado participativo. Mesmo nos Estados Unidos, o documento ainda não foi bem digerido e incorporado pelas autoridades e a população.
Aproximadamente 1.800 municípios, em 64 países, já têm sua Agenda 21 local. Cerca de 90% deles estão em países ricos. Na Noruega e na Suécia, quase todas as cidades já cumpriram a lição de casa. No Brasil, as cidades pioneiras foram Porto Alegre, Santos, Vitória, seguidos por São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. "O caso de Porto Alegre foi considerado exemplar por delegados do Mundo todo", comenta Samyra Crespo, da Comissão Anfitriã da Rio+5. "Vale lembrar que a cidade aumentou 80% de sua área verde nos últimos oito anos e que a experiência do orçamento participativo, muito elogiada, já está consolidada".
Aproximadamente 1.800 municípios, em 64 países, já têm sua Agenda 21 local. Cerca de 90% deles estão em países ricos.
Realmente, nestes quatro anos em que venho divulgando a Ecopedagogia e articulando o Projeto Arroio Araçá: Nosso Rio Guri, e nos dois anos em que participo da organização da Romaria das Águas, na região metropolitana, constatei que pouquíssimas são as pessoas que sabem o que é a agenda 21.

Este movimento histórico trouxe várias conquistas.
O resultado depende da nossa forma de agir a partir delas.
E não podemos desanimar.
Rua mais bonita do mundo fica em Porto Alegre
Rua Gonçalo de Carvalho.

"Seja a mudança que você quer ver no mundo”
GANDHI

Graças à vida...

A cantora argentina Mercedes Sosa morreu neste domingo - 04/09/09 , aos 74 anos, depois de permanecer internada por 11 dias em um hospital na cidade de Buenos Aires.

A grande cantora da alma latinoamericana, conhecida como “La Negra”, pelos longos e lisos cabelos negros, foi uma voz importante quando a região estava sob ditaduras. Sua voz poderosa encantou e politizou toda uma geração, tornando-se uma das grandes expoentes da Nueva Canción, um movimento musical latino-americano da década de 60, com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas. No Brasil, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, entre outros artistas, são expressões da Nueva Canción, marcada por uma ideologia de rechaço ao consumismo e desigualdade social.

Mercedes Sosa participou na Comissão de Redação da Carta da Terra juntamente com Mikhail Gorbachev, Maurice Strong, Steven Rockfeller, Leonardo Boff e outros.
Graças à vida que me deu tanto
Me deu dois luzeiros que quando os abro
Perfeito distinguo o preto do branco
E no alto céu seu fundo estrelado
E nas multidões o homem que eu amo
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o ouvido que em todo seu comprimento
Grava noite e dia grilos e canários
Martírios, turbinas, latidos, aguaceiros
E a voz tão terna de meu bem amado
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o som e o abecedário
Com ele, as palavras que penso e declaro
Mãe, amigo, irmão
E luz iluminando a rota da alma do que estou amando

Graças à vida que me deu tanto
Me deu a marcha de meus pés cansados
Com eles andei cidades e charcos
Praias e desertos, montanhas e planícies
E a casa sua, sua rua e seu pátio

Graças à vida que me deu tanto
Me deu o coração que agita seu marco
Quando olho o fruto do cérebro humano
Quando olho o bom tão longe do mal
Quando olho o fundo de seus olhos claros
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o riso e me deu o pranto
Assim eu distinguo fortuna de quebranto
Os dois materiais que formam meu canto
E o canto de vocês que é o mesmo canto
E o canto de todos que é meu próprio canto
Graças à vida, graças à vida...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ecopedagogia: Educar para a sustentabilidade


Claudemiro Godoy do Nascimento *

A consciência ecológica levanta-nos um problema profundo e de uma vastidão extraordinária. Temos que defrontar com o problema da vida -bios- no planeta terra, o problema dessa sociedade pós-moderna -neoliberal ainda- e com o problema do destino do ser humano. Isto nos obriga a pensar a questão da própria orientação da chamada civilização ocidental. Nesta primeira década do século XXI somos chamados e chamadas a compreender que revolucionar, desenvolver, inventar, sobreviver, viver e morrer, encontra-se inseparavelmente ligado como já afirma Edgar Morin.Da minha aldeia vejo que a terra pode ver o Universo. Por isso, a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Segundo o poeta Fernando Pessoa nós, seres humanos, somos do tamanho daquilo que vemos e não do tamanho da nossa altura.
Neste sentido, gostaria de apresentar algumas reflexões que são resultados de debates organizados pelo Instituto Paulo Freire (IPF) sobre os novos paradigmas da educação. O objetivo é compreender melhor o papel da educação na construção de um desenvolvimento com justiça social, centrado nas necessidades humanas e que não agrida ao meio ambiente, daí a necessidade de uma "ecopedagogia" que nos ensina a viver de forma sustentável. O educador Francisco Gutiérrez, diretor do IPF da Costa Rica, foi o primeiro a criar a concepção de ecopedagogia em 1992 por ocasião da ECO-92 realizada na cidade do Rio de Janeiro.
Para se entender o que seja ecopedagogia, precisamos compreender o que vem a ser pedagogia e o vem a ser sustentabilidade. Francisco Gutiérrez e Daniel Prieto definem pedagogia como o trabalho de promoção da aprendizagem através dos recursos necessários ao processo educativo no cotidiano das pessoas. O cotidiano e a história fundem-se num todo. A cidadania ambiental local torna-se cidadania planetária.
Para ambos os autores, parece impossível construir um desenvolvimento sustentável sem uma educação para o desenvolvimento sustentável. Esse desenvolvimento sustentável requer quatro condições básicas para se efetivar no cotidiano das pessoas, a saber: 1) que seja economicamente factível; 2) que seja economicamente apropriado; 3) que seja socialmente justo; 4) e que seja culturalmente eqüitativo, respeitoso e sem discriminação de gênero.
O desenvolvimento sustentável, mais do que um conceito científico, é uma idéia-força e mobilizadora neste século XXI que se avança. As pessoas e a sociedade civil, em parceria com o Estado, precisam dar sua parcela de contribuição para criar cidades e campos saudáveis, sustentáveis, com qualidade de vida. Nesta perspectiva, conclui-se que não pode haver desenvolvimento sustentável sem uma sociedade sustentável, cujas características são:
1) Promoção da vida para desenvolver o sentido da existência. Deve-se partir de uma cosmovisão que vê a terra como único organismo vivo. Na tradição indígena maia, ao invés de agredir a terra para conquistá-la, antes do arado para o cultivo, faz-se uma cerimônia religiosa na qual pedem perdão à Mãe Terra por ter que agredi-la com o arado para dela tirar o seu sustento.
2) Equilíbrio dinâmico para desenvolver a sensibilidade social. Francisco Gutiérrez entende a necessidade do desenvolvimento em preservar os ecossistemas.
3) Congruência harmônica que desenvolve a ternura e o estranhamento, ou seja significa sentir-se como mais um ser - embora privilegiado - do planeta, convivendo com outros seres animados e inanimados.
4) Ética integral entendida como conjunto de valores - consciência ecológica - que dá sentido ao equilíbrio dinâmico e à congruência harmônica e capacidade de auto-realização.
5) Racionalidade intuitiva que desenvolva a capacidade de atuar como um ser humano integral. A racionalidade técnica que fundamenta o desenvolvimento desequilibrado e irracional da economia clássica precisa ser substituída por uma racionalidade emancipadora, intuitiva, que conhece os limites da lógica e não ignora a afetividade, a vida, a subjetividade. O paradigma da racionalidade técnica, concebendo o mundo como um universo ordenado e perfeito, admitindo que é preciso apenas conhece-lo e não transforma-lo acaba por naturalizar também as desigualdades sociais.
6) Consciência planetária que desenvolve a solidariedade planetária. Reconhecermos que somos parte da Terra e que podemos viver com ela em harmonia -participando do seu devir- ou podemos perecer com a sua destruição.
A palavra ecologia foi criada em 1866 pelo biólogo alemão Ernest Haeckel, como um ramo da biologia, para designar o estudo das relações existentes entre todos os sistemas vivos e não-vivos entre si e com seu meio ambiente. São quatro as grandes vertentes da ecologia, a saber:
ü A ecologia ambiental - que se preocupa com o meio ambiente;ü A ecologia social - que insere o ser humano e a sociedade dentro da natureza e propugna por um desenvolvimento sustentável;ü A ecologia mental - que estuda o tipo de mentalidade que vigora hoje e que remonta a vida psíquica humana consciente e inconsciente, pessoal e arquetípica;ü A ecologia integral - que parte de uma nova visão da terra surgida desde os anos 60 do século XX quando pôde ser vista de fora.
A ecopedagogia pode ser vista tanto como um movimento pedagógico e também como uma abordagem curricular. A ecopedagogia como movimento pedagógico pode ser entendido como um movimento social e político a partir da ecologia, pois surge no interior da sociedade civil e nas organizações populares por meio de educadores/as e de ecologistas, trabalhadores/as e empresários/as que se preocupam com o meio ambiente. Nestes tempos recentes, as ONGs é que estão se movimentando na busca por uma pedagogia do desenvolvimento sustentável, pois entendem que sem uma ação pedagógica efetiva, de nada adiantará os grandes projetos de despoluição da natureza e de preservação do meio ambiente.
A ecopedagogia como abordagem curricular implica numa reorientação dos currículos escolares para que incorporem certos princípios defendidos pelo movimento pedagógico. Os conteúdos curriculares têm que ser significativos para o aluno/a e somente será significativo para ele se tais conteúdos forem significativos para a saúde do planeta. Neste sentido, a ecopedagogia também serve para influenciar a estrutura e o funcionamento dos sistemas de ensino. Ela propõe uma nova forma de governabilidade diante da ingovernabilidade do gigantismo dos atuais sistemas de ensino.
Defende-se a idéia de que a ecopedagogia é uma pedagogia de educação multicultural. Porque ela não se dirige apenas aos educadores/as, mas aos habitantes da terra. Hoje, as crianças escolarizadas é que levam para os adultos em casa a preocupação com o meio ambiente. Assim, pode-se afirmar que a ecopedagogia está ligada a um projeto de desenvolvimento sustentável onde se pretende mudar as relações humanas, sociais e ambientais que existem hoje. É uma nova pedagogia dos direitos que associa os direitos humanos aos direitos da terra.
Para se entender este movimento pedagógico é preciso relembrar momentos deste debate onde se pretende passar das questões de educação ambiental à ecopedagogia. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, de 03 a 14 de junho de 1992, foi um evento paralelo ao Fórum Global 92. Neste fórum foi aprovada a Declaração do Rio, também chamada de Carta da Terra. Esta Carta constitui-se numa Declaração de Princípios globais para orientar a questão do meio ambiente e do desenvolvimento. Este evento ficou conhecido como ECO - 92.
A Rio+5 foi um novo fórum de organizações governamentais e não-governamentais realizado em março de 1997. Nessa conferência se discutiu muito a educação ambiental e se percebeu a importância de uma pedagogia do desenvolvimento sustentável ou de uma ecopedagogia. A ecopedagogia precisa trilhar ainda um longo caminho, não somente de debates acadêmicos, teóricos, mas precisa ser experimentado na prática.
Nosso futuro comum depende de nossa capacidade de entender hoje a situação dramática na qual se encontra o planeta terra devido a deteriorização do meio ambiente. Isto requer a formação de uma nova consciência planetária. Como diz Gutiérrez, existem duas pedagogias opostas, que são: a pedagogia da proclamação que não dá ênfase aos interlocutores enquanto protagonistas do processo. Por outro lado, a pedagogia da demanda, porque parte dos protagonistas e busca em primeira instância a satisfação das necessidades não-satisfeitas desencadeando um processo imprevisível, gestor de iniciativas, propostas e soluções. Os valores que devem sustentar a ecopedagogia são: sacralidade, diversidade e interdependência com a vida; preocupação comum da humanidade de viver com todos os seres do planeta; respeito aos direitos humanos; desenvolvimento sustentável; justiça, eqüidade e comunidade; prevenção dos danos causados. Neste sentido, todo homem e toda mulher é um educador e educadora, pois todos são protagonistas em cuidar do planeta Terra.
Portanto, qualquer pedagogia pensada fora da globalização e do movimento ecológico tem hoje sérios problemas de contextualização. O Estado pode e deve fazer muito mais para a educação ambiental. Todavia, sem a participação da sociedade civil e de uma formação comunitária para a cidadania ambiental, a ação do Estado será limitada. A ecopedagogia não quer oferecer apenas uma nova visão da realidade social do ecossistema, mas dar um novo sentido reeducativo no olhar e na leitura dessa realidade.


E-mail: claugnas@terra.com.br
* Filósofo e Teólogo.