segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Educação Ambiental como educação moral do século XXI”


As Cartilhas pela Natureza e a ambientalização da umbanda:
o caso da FAUERS no RS
Por Pádula Rita Ferreira
Isabel Cristina de Moura Carvalho (orientadora)
Faculdade de Educação/PPGEDU – PUCRS

Resumo


Este trabalho faz parte do grupo de pesquisa (CNPq) “Cultura, ambiente e educação” e da pesquisa e andamento no PPGEdu, sob orientação da profa. Isabel Carvalho “Educação Ambiental como educação moral do século XXI”. Meu trabalho dentro desta pesquisa foi estudar um caso particular de ambientalização das práticas educativas. Estou pesquisando a elaboração de cartilhas ecológicas pela Federação Afro-Umbandista e Espiritualista Rio Grande do Sul (FAUERS). O objetivo é discutir como esta tradição religiosa está incorporando a preocupação com o meio ambiente em seus rituais e ações pedagógicas junto aos seus praticantes. Quero compreender como esta Federação dialoga com sua comunidade de adeptos,a fim de educá-los ambientalmente desde uma perspectiva ecológica construindo pontes entre seus princípios religiosos e uma ética e uma moral ecológica.

Introdução

A pesquisa “Educação Ambiental como educação moral do século XXI” da qual este trabalho parte busca discutir os processos de ambientalização da sociedade, particularmente das práticas educativas sejam estas escolares ou não formais. O conceito de ambientalização é inspirado principalmente nos trabalhos do antropólogo José Leite Lopes (2004) e Acselrad (2010) e trazido para o campo da educação é entendida como processo de internalização da preocupação ambiental instituindo-se como um conjunto de crenças que tende a se generalizar na formação de comportamentos, atitudes e de uma moral ecológica (Carvalho & Toniol. 2010).

O trabalho apresentado estuda a ambientalização de uma prática educativa no contexto de uma tradição religiosa. Trata-se de analisar a iniciativa de uma “educação ambiental” empreendida pela FAUERS através da elaboração e difusão das “Cartilhas para a natureza” publicada por esta Federação para sua comunidade de praticantes. Além das cartilhas a Federação participa ativamente no RS junto com a Pastoral da Ecologia e de várias atividades ecológicas interreligiosas. Minha preocupação tem sido identificar nas iniciativas ambientais da FAUERS como este grupo religioso tem construído uma “ecopedagogia” como declara a pedagoga que é idealizadora das Cartilhas, e se apropriado dos valores ecológicos em seu repertório de valores éticos e morais.

Metodologia

Esta pesquisa tem uma orientação antropológica e usa como recursos metodológicos o trabalho de campo de cunho etnográfico, análise documental e entrevistas semiestrururadas. Participei e observei de eventos ecológicos promovidos pela FAUERS, analisei as cartilhas e outros documentos escritos que circulam neste meio, acompanhei o lançamento das ultimas duas edições das cartilhas, fiz visitas a uma casa de religião ligada aos idealizadores das cartilhas. Sigo acompanhando estes eventos, pois a pesquisa segue em andamento. Os trabalhos de campo são sistematicamente discutidos com o grupo de pesquisa acima citado que se reúne presencialmente com a professora orientadora para leituras de apoio a pesquisa e para discutir no grupo os campos de cada pesquisador.

Resultados Parciais (ou Resultados e Discussão)

Até o momento podemos perceber uma intenção pedagógica da FAUERS de educar seus praticantes para uma ação religiosa ambientalmente correta. Estas práticas rituais têm sido cobradas e mesmo acusadas de causar danos ambientais como, por exemplo, pelas oferendas deixadas nos lugares e outras interferências no ambiente. A Umbanda se relaciona de diversas maneiras com a natureza. Costuma fazer suas oferendas muitas vezes junto a cursos de rio, junto ao mar ou em áreas naturais (parques, praças etc.), e seus orixás representam diretamente forças da natureza. Percebemos através das cartilhas uma ação conscientizadora e pedagógica no sentido de alinhar e compatibilizar esta tradição religiosa com uma visão ecológica contemporânea. Destacamos nas duas edições da cartilha como o tema ecológico é introduzido com a frase: “Cartilha pela natureza: um altar de todos nós”. Nestas cartilhas a questão ambiental é apresentada como profundamente ligada à tradição da Umbanda. Na primeira edição a cartilha orienta seus adeptos para o tema da reciclagem dos materiais usados nas oferendas, de modo a reduzir seu impacto ambiental. Na segunda edição a cartilha retoma os temas abordados na edição anterior reforçando, a partir da contação de uma história, a relação de cada orixá com a preservação da natureza, buscando sensibilizar a comunidade religiosa em torno do cuidado com o meio ambiente.

Conclusão

O estudo das cartilhas pela natureza, da Federação de Umbanda, nos ajuda a compreender práticas pedagógicas associadas aos processos de ambientalização de uma tradição religiosa. Poderíamos argumentar que a internalização dos valores ambientais traz reconhecimento e legitimidade social para este universo de crença e de identidade cultural afro-brasileiro. A questão ambiental ao ser incorporada em práticas como a Umbanda indica que a preocupação com o ambiente tende a expandir-se como um argumento válido de orientação moral, ética e estética para o conjunto da sociedade, ainda que de forma diferenciada para cada grupo social.


Referências

GADOTTI.Moacir.Disponívelem:http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/torres/gadotti.pdf Acesso em: 24 de junh.2011

ACSELRAD. H. Ambientalização das lutas sociais. Revista estudos avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, p. 103-119, 2010.

CARVALHO, I. C. M. e TONIOL, Rodrigo. Ambientalização, cultura e educação: diálogos, traduções e inteligibilidades possíveis desde um estudo antropológico da educação ambiental. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. especial, setembro de 2010,PP.28-39.

CARVALHO, I. C. M.; STEIL, C. A.. A sacralização da natureza e a 'naturalização' do sagrado: aportes teóricos para a compreensão dos entrecruzamentos entre saúde, ecologia e espiritualidade. Ambiente & Sociedade. Campinas, v. 11, n.2, p. 289-305, 2008.

LEITE LOPES, J. S. (Org.). A Ambientalização dos Conflitos Sociais; Participação e Controle Público da Poluição Industrial (coordenador). 1. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2004. [v. 1]

XII Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 03 a 07 de outubro de 2011