domingo, 30 de agosto de 2009

Ecoformação: olhar global, ação local.


"A ecopedagogia originou-se na preocupação com o sentido da vida cotidiana.
A formação está ligada ao espaço/tempo no qual se realizam concretamente as relações entre o ser humano e o meio ambiente.
Elas se dão sobretudo no nível da sensibilidade,
muito mais do que no nível da consciência.
Elas se dão, portanto, muito mais no nível da sub-consciência:
não as percebemos e, muitas vezes, não sabemos como elas acontecem.
É preciso uma ecoformação para torná-las conscientes.
E a ecoformação necessita de uma ecopedagogia. "

Moacir Gadotti


sábado, 22 de agosto de 2009

Um Ecopedagogo no Movimento Romaria das Águas - RS

O Irmão marista Antonio Cechin, 82 anos, cuja idade não impede de continuar sendo o organizador de diversas pastorais sociais e da Romaria das Águas, nasceu em Santa Maria/RS e desde cedo optou pela vida religiosa. Aos 18 anos, já lecionava no Colégio Rosário, de Porto Alegre. Graduou-se em Letras Clássicas e em Ciências Jurídicas e Sociais. Em 1959, rumou para Paris para se especializar em Economia e Humanismo. De lá, foi trabalhar no Vaticano, como secretário do Promotor Geral da Fé, até o ano de 1961. Sob o papado de João XXIII, acompanhou as preparações e as primeiras nomeações de teólogos que participariam do Concílio Vaticano II. Na volta ao Brasil, começou a aplicar novos métodos de educação catequética, já influenciado, no Brasil, por intelectuais como Paulo Freire. Ambos sofreram a perseguição pela ação junto aos pobres e oprimidos no tempo da ditadura. Irmão Antonio tem, ainda, uma história de organização, compreenção e ação junto com as populações da periferia de Canoas.

Conhecer o Irmão Cechin foi a alegria que não tive de conhecer Paulo Freire pessoalmente. Em 1994, como integrante da comissão de formatura da turma de Pedagogia na UNISINOS, convidei Freire, por telefone, para ser nosso paraninfo. Infelizmente foi na ocasião em que ele teve seu primeiro problema de saúde e foi impedido de vir nos apadrinhar. Porém, anos depois, venho conhecer Irmão Antonio verificando que muitas coisas nos aproximam.
Convivendo com o Irmão Cechin, experimento o mergulho na corrente das águas límpidas da dialógica que Paulo Freire anunciava: o ser humano é um ser de relações pessoais, impessoais, concretas e imaginárias, divinas, espirituais... Relação significativa que implica em diálogo, diálogo que implica em relação significativa, que requer abertura, pluralidade na singularidade, transcendência, criticidade, contextualização, responsabilidade, desafios, e ação pro-ativa, 'no' e 'com' o mundo. Leio em sua história a contemporaneidade e a práxis da pedagogia freireana. Na construção da proposta da Romaria das Águas traz um ‘tema gerador’ que potencializa a ‘reflexão-ação’ para encaminhamentos na resolução de problemas socioambientais nas águas da bacia do Guaíba. Numa ‘atitude democrática solidária’ e de sentimento de justiça com a mãe-natureza e com os catadores, que chama de Profetas da Ecologia, Irmão Cechin realiza uma profunda interligação:

1. busca ‘ligar novamente’ as comunidades com o sagrado da água;

2. busca ‘religar’ as diferentes religiões, que com suas diferenças, num ritual único, encaminham a coleta das águas nas nascentes e o derramamento destas águas limpas nas poluídas do Guaíba, num gesto de compromisso anual pela despoluição de todos os mananciais.

Uma ‘participação socio-política-ambiental’ que acontece na ‘transdisciplinaridade’ para a resolução de questões concretas que carregam em si uma teia abrangente de problemas ecológicos, espirituais, éticos, morais e estéticos.

Irmão Cechin vem superando ‘situações-limite’ e realizando o ‘inédito-viável’ neste 16 anos de Romaria. Na ‘leitura de mundo’ denuncia o conjunto de problemas que envolvem a água, constituindo uma rede de potencialidades que se manifesta na valorização, no respeito e no ‘cuidado’ com os ambientes e com as culturas locais. Estas últimas constituindo-se como instâncias indispensáveis na solução das problemáticas. Com sua ‘amorosidade’ motiva, valoriza, contribui e instiga para a relação e o diálogo na busca de uma sociedade sustentável e solidária focada na vida.

Irmão Antonio, Pedagogo da Indignação e da Esperança, é exemplo na aplicabilidade da ECOPEDAGOGIA.

domingo, 16 de agosto de 2009

Ecopedagogia e Cultura da Sustentabilidade Frente à Globalização


Resumo

Para bem garantir o objetivo de pensar o presente precisamos construir uma outra globalização fundada no princípio da solidariedade. A globalização em si não é problemática, pois representa um processo de avanço sem precedentes na história da humanidade. O que é problemática é a globalização competitiva. Este texto tem por propósito realizar uma análise da ecopedagogia e uma reflexão a cultura da sustentabilidade para o campo da globalização competitiva. Pretende-se que este artigo seje desafiador e convidativo para reflexões de caráter ético e antropológico dos problemas impostos aos seres humanos e ao meio ambiente diante do potencial destrutivo que o desenvolvimento do capitalismo provoca. De caráter antropológico por se tratar da questão coletiva estando esta ávida de novas formas de vida, abrangendo todas as esferas da vida social contendo a possibilidade de um processo de mutação antropológica, no sentido de promover uma nova concepção de homem, e este percebendo que, inserido no universo, não está separado do planeta, e se questione o sentido da vida. E ético, porque os novos princípios que regularizam a atividade humana onde seus atores globais terão de se basear num novo paradigma que tenha a Terra como fundamento e centro. A mudança paradigmática trará com certeza implicações na "educação", tanto na abordagem curricular como no movimento social e político, esta entendida como uma reorientação de nossa visão de mundo. A educação como centro de estudo e de conhecimento deverá estar consciente da sua responsabilidade humana e ambiental. A ecopedagogia ou pedagogia da terra preocupa-se em inserir o indivíduo numa comunidade local e global ao mesmo tempo, esta é a lógica da revolução social ou universal hoje almejada ou possível. Podendo-se destacar na excelência de uma cidadania integral, ativa e plena. É a conquista da cidadania planetária, sendo o acesso aos direitos universais. Portanto, esta implica, também, a existência de uma democracia planetária.


Palavras-chave: Ecopedagogia. Cultura da sustentabilidade. Educação. Cidadania planetária.

Introdução
A sociedade, pela própria imposição da globalização competitiva, está diante de um modelo capitalista que tende a se fortificar ainda mais nas próximas décadas e testemunham a emergência da sustentabilidade como a expressão dominante no debate que envolve as questões do meio ambiente e de desenvolvimento social em sentido amplo. Sua expansão gradual tem influenciado diversos campos do saber e de atividades diversas, entre os quais o campo da educação.
No Brasil, o discurso da educação para a cultura da sustentabilidade ainda é pouco disseminado na literatura e nas práticas que relacionam educação e meio ambiente.
A crescente difusão do discurso do desenvolvimento sustentável veiculado pelo Relatório Brundtland permitiu uma pluralidade de leituras que oscilam e assumem múltiplos sentidos, pronunciado indistintamente por diferentes sujeitos, nos mais diversos contextos sociais, marcado por um mundo globalizado entre relações de dependência política e cultural dos países do centro e da periferia do sistema mundial, e da diversidade de sentidos envolvidos nesta construção dentro do jogo de forças e interesses que nelas se destacam. Diante deste caldeirão de conceitos de sustentabilidade o sistema educacional precisa analisar quais os significados e implicações entre educação e a sustentabilidade. Educar para sustentar o quê? Que fundamentos, valores e interesses estão envolvidos neste processo? Qual a história da construção do discurso da sustentabilidade e de sua inserção na educação? Estas são algumas questões que norteiam a reflexão para a humanidade procurar compreender as relações entre sustentabilidade e a educação.
A perspectiva adotada é baseada nas rupturas tecnológicas que se sucederam ao longo dos últimos séculos, expandindo-se no final do século XVIII a partir da Revolução Industrial. Não se pretende com isto dizer ou propor uma lógica inerente ou inevitável. Tampouco, garantir que a história se repete ou que se repetirá da mesma forma. Ao contrário, a ecopedagogia representa um projeto alternativo global, cujas finalidades são vias de mãos duplas, por um lado, promover a aprendizagem a partir da vida cotidiana e, por outro, a promoção de um novo modelo de civilização sustentável do ponto de vista ecológico.
Os conflitos de interesse como lógica da globalização competitiva leva de forma inevitável à precarização da vida de parcela da população, reconhece-se que uma sociedade democrática cujos aspectos de totalitarismo subsistem dentro do âmbito da sociedade do consumo. Neste sentido o grande desafio do século XXI para a educação será encontrar maneira de fazer preservação do meio ambiente e social um caminho para atingir a prosperidade econômica; respeitando a diversidade cultural do ambiente humano e natural, principalmente do ponto de vista ético. Assim sendo, para Dias:
Nenhum sistema social pode ser mantido por longo período quando a distribuição dos benefícios e dos custos, ou das coisas boas e ruins de dado sistema é extremamente injusta, especialmente quando parte da população está submetida a um debilitante e crônico estado de pobreza. ( DIAS, 2004, p.226 ).
Tanto a opulência quanto a pobreza implica-se no viés de um desenvolvimento insustentável ao longo do tempo, a espécie humana experimenta um grande desafio: a perda do equilíbrio ambiental, acompanhada de erosão cultural, do seu empobrecimento ético e espiritual, também fruto de um tipo de educação que "treina" as pessoas para ser consumidoras úteis, egocêntricas, para ignorar as conseqüências de certos atos perversos. Como nos ensina Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido.
Os paradigmas clássicos que orientaram, até agora, a produção e a reprodução da existência do planeta colocaram em risco não apenas a vida do ser humano, mas todas as formas de vida existentes na Terra.


Cultura da Sustentabilidade
Apesar de o tema ambiental ser discutido em "prosa e verso" pelos diversos instrumentos existentes na mídia, pelos 'especialistas' no assunto. A maioria da sociedade vem experimentando resultados negativos, dia a dia, pois ainda não consegue entender a complexidade do assunto e até mesmo, qual é o papel de cada um de nós na contribuição envolvimento e comprometimento com a sua melhoria e conseqüente preservação.
A cultura da sustentabilidade é, pois uma cultura da planetariedade definida por (GADOTTI, 2005, p.24 ) como: "uma cultura que parte do princípio que a Terra é constituída por humanos que são considerados cidadãos de uma única nação".
A ecopedagogia tenta conceituar sustentabilidade dando um novo significado que vai além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente. Esse novo conceito do ponto de vista da pedagogia da terra implica um equilíbrio do ser humano com o universo. Desse modo o verdadeiro desenvolvimento humano deve compreender o conjunto de autonomias individuais das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. A sustentabilidade que se defende aqui refere ao próprio sentido do que somos de onde viemos e para onde vamos, portanto, somos seres do sentido e doadores de tudo o que nos cerca. É a própria sobrevivência da vida no planeta que está em jogo, ameaçada por formas de relação do homem consigo mesmo, com os outros e com o meio ambiente físico que não servem mais. De certa forma essa nova visão coloca a humanidade diante da perspectiva de uma nova geração de hábitos.
Dessa forma a cultura da planetariedade permite uma visão integrada dos indivíduos no desenvolvimento mútuo da tríade indivíduo/sociedade e espécie. Morin em concordância sobre esse pensamento, observa que.
A Humanidade deixou de constituir, uma noção sem raízes e abstrata: está enraizada em uma "Pátria", a Terra, e a Terra é uma Pátria em perigo. É realidade vital, pois está, pela primeira vez, ameaçada de morte. A Humanidade deixou de constituir uma noção somente ideal, tornou-se uma comunidade de destino, e somente a consciência desta comunidade pode conduzi-la a uma comunidade de vida; a Humanidade é daqui em diante, sobretudo, uma noção ética: é o que deve ser realizado por todos e em cada um. (MORIN, 2004, p. 117).
Se a desunião homem e natureza foi uma conseqüência dessa visão universal, o resgate dessas unidualidade do humano requer urgência máxima. Existe uma visão capitalista do crescimento sustentável e o meio ambiente que, por ser antiecológica, deve ser considerada uma "cilada", como bem disse Leonardo Boff.
O descontrole da produção pode levar a humanidade à destruição do planeta, não por efeito de armas nucleares, mas por esta visão de progresso, a essa possibilidade pode-se dizer a era do exterminismo cuja produção de alta tecnologia é apoiada em discursos desenvolvimentista o qual prega a expansão a qualquer preço. Essa pequena fração de grandes propriedades rurais monocultoras e industriais está inserida em nossa economia. Vive-se num impasse civilizatório: ou corrigi-se os rumos do desenvolvimento, ou agravam-se ainda mais cenários como: escassez dos recursos naturais, aumento da pobreza, violência e das desigualdades sociais, entre outros problemas que ocorrem com incrível velocidade em escala global, precisa-se olhar para o passado, redescobrir a sabedoria da experiência e não deixar subestimar certos problemas. Morin corrobora com essa avaliação, ao afirmar que.
Todo conhecimento comporta risco do erro da ilusão. A educação do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro e da ilusão. O maior erro; seria subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão. O reconhecimento do erro e a ilusão são ainda mais difíceis, porque o erro e a ilusão não se reconhecem em absoluto, como tais. (MORIN, 2004, p.19).
É preciso primeiro deixar-se contaminar pela causa primária da incerteza e descobrir que a razão e a desrazão integram qualquer tipo de conhecimento, mesmo que a ciência insista em não deixar contagiar por percursos: mítico-mágico-imaginários, que sempre se encontram presentes em teorias, conceitos e métodos.


O discurso do desenvolvimento sustentável
Embora o discurso da sustentabilidade possa ser identificado em diversas falas e contextos históricos remotos, foi conceituado pela primeira vez pela ONU em 1979, iniciando nos movimentos sociais em defesa da ecologia; nas conferencias internacionais promovidas pela ONU – Organização das Nações Unidas para debater os temas do meio ambiente e do desenvolvimento; nos relatórios do Clube de Roma.
Sachs reformulou a noção de ecodesenvolvimento, propondo uma estratégia multidimensional dando alternativa de um desenvolvimento que articulava promoção econômica, preservação ambiental e participação social. O seu compromisso com os direitos e desigualdades sociais e com a autonomia dos povos e países mais pobres era de extrema importância. Sachs apontou meios de superar a marginalização e a dependência política cultural e tecnológica dos atores envolvidos nos processos de mudança social
A Comissão de Brundtland, mesmo apoiada por muitas idéias de Sachs, aboliu de seu discurso o que poderia ser uma inovação o conteúdo emancipador do Ecodesenvolvimento, chegando a um discurso diferente ao que Sachs havia proposto. A Comissão ressaltava uma ênfase econômica e tecnológica.
Nesta perspectiva o discurso da sustentabilidade surgiu como um substituto ao discurso do desenvolvimento econômico, atendo-se em sanar um conjunto de contradições expostas e não respondidas por outros modelos de desenvolvimentos anteriores, produzido e difundido pelos países centrais do capitalismo – sobretudo os Estados Unidos.
Segundo documento, divulgado pelo BIRD no dia (10.05.06) durante a 14ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável em Nova York Os principais poluidores continuam sendo os paises mais ricos, no ranking dessa contribuição está os Estados Unidos com 24% do total e os da zona do euro, com 10%. Este mesmo relatório mostra que os países mais ricos consomem mais da metade da energia produzida no mundo. Nos dias atuais a experiência tem demonstrado, por várias evidências, que o agronegócio é um eficiente instrumento de alocação de recursos, mas por outro lado um perverso gestor das disparidades sociais. Comunicar o senso de urgência que deveria inspirar as mudanças na direção da sustentabilidade desejada é tarefa de todos. Compete principalmente ao poder público, que no caso do Brasil prioriza a globalização competitiva sem a predominância da cooperação e da solidariedade. Incluindo nessa luta à sociedade organizada através de grupos, educação, entre outros setores da comunidade.
Neste contexto o termo sustentabilidade associado ao termo "sustentável + desenvolvimento", sofreu muitas críticas, pelo seu uso reducionista. As pessoas não estavam preparadas para lidar com essas questões. As críticas ao conceito de desenvolvimento sustentável e a própria idéia de sustentabilidade vêm do fato de que os ecologistas tratavam separadamente questões sociais e questões ambientais, surgido por um movimento conservador na tentativa elitista dos países ricos no sentido de reservar grandes áreas naturais para seu lazer e contemplação. A preocupação com a Amazônia, por exemplo, não era uma preocupação com a sustentabilidade planetária, mas com a continuidade do "bel-prazer" o que era contraditório com a necessidade da população.
Hoje, diante dessas críticas, para que a luta ecológica obtenha sucesso depende muito da capacidade dos ecologistas incentivarem a população, principalmente nos estrados mais baixos, convencendo-os de que não se trata apenas de atitudes reducionistas. Mas, trata-se de dar uma solução simultânea aos problemas ambientais e sociais os problemas existentes afetam o ser mais emaranhado da natureza que é o ser humano, essa visão errada que a ecologia trata apenas do meio ambiente para viver-se num planeta melhor num futuro distante deve ser desmistificada. Criou-se um duplo sentido ao conceituar esse binômio e recebeu muitas críticas, para alguns a associação desses dois termos tornou-se a expressão do absurdo lógico; pois a união de ambos é, incompatíveis. Quando se fala em sustentabilidade, conspira-se contra um modelo de desenvolvimento "ecologicamente predatório; politicamente perverso e socialmente injusto", revelando-se que o discurso da sustentabilidade, apresentado ao debate público, de ingênuo não tinha nada, priorizava gerenciar a reprodução econômica do capitalismo. Comunicar o senso de urgência que deveria inspirar as mudanças na direção da sustentabilidade desejada é tarefa de todos. Compete principalmente ao poder público, que no caso do Brasil prioriza a globalização competitiva sem a predominância da cooperação e da solidariedade.


Desenvolvimento Sustentável
O conceito de desenvolvimento não é um conceito neutro ele tem um contexto bem preciso dentro de uma ideologia de progresso. O conceito foi utilizado numa visão colonizadora, durante muitos anos em que os países foram divididos em três grupos: "desenvolvidos" em "desenvolvimento" e "subdesenvolvidos", critérios estes, sempre associados a um padrão de industrialização e de consumo. Esse conceito supõe que todas as sociedades devam orientar-se por uma única via de acesso ao bem-estar e a felicidade que são alcançados apenas pela acumulação de bens materiais.
Durante muitos anos era comum se pensar que, o que era bom para a indústria era bom pra a sociedade de um modo geral. Essa crença trazida por peritos convencidos de trabalhar para a razão e para o progresso permaneceu durante décadas pela humanidade. Com isso empobreceram ao enriquecer e destruíram ao criar. É preciso romper com a lógica de que a nação vai bem se o consumo for maior a cada ano.
As políticas econômicas neocolonialistas dos países chamados "desenvolvidos" tinham metas de desenvolvimento a cumprir a qualquer custo, com isso agravou-se o aumento da miséria, da violência e do desemprego. Quando esses modelos econômicos não satisfaziam mais as necessidades capitalistas eram feitos ajustes econômicos transplantando valores éticos e ideais políticos cuja conseqüência foi à destruição de povos das nações.
Esse tipo de desenvolvimento trouxe consigo uma iminente "catástrofe", tem-se hoje a percepção que se deve traduzir essa consciência em ação, para retirar da sustentabilidade essa visão predatória concebendo-a de forma mais antropológica, e menos capitalista para salvar a Terra. É claro que há uma incompatibilidade de princípios entre sustentabilidade e capitalismo. Reconhece-se que a conciliação desses dois termos no atual contexto da globalização competitiva é inconciliável e inaplicável. Na condução do país, o peso do setor do agronegócio é desmedido: considerando salvador da Pátria, para que ele tudo vale e tudo é permitido, é a este modelo de desenvolvimento 'exógeno' que o agronegócio terá de gerar valor, mesmo com um enorme custo social e ambiental, sendo esta a opção do governo. Estando este centrado numa característica contraditória onde se faz um longo caminho de violência e destruição de direitos. É uma ameaça para a humanidade, fere profundamente os direitos humanos. Essa contradição de base está no centro dos debates da carta da Terra.
É impossível haver um crescimento com equidade sustentável, numa economia regida pelo lucro, pela acumulação ilimitada, pela exploração do trabalho e não pelas necessidades das pessoas. As políticas neocolonialistas não desapareceram, mas adquiriram formas mais sofisticadas e suas mudanças não são mais que "máscaras". Os escravagistas de hoje só são diferentes daqueles do século IXX porque não chegam a acorrentar seus empregados, nem colocam à venda os que rendem pouco. Mas seus trabalhadores não possuem água potável, quase nunca se alimentam adequadamente. Quando têm o direito de comer mais de uma vez por dia pagam valores bem maiores pela alimentação do que o salário inicialmente acordados. Em dezembro de 2006 no Palácio do Planalto, por ocasião do lançamento da nova fase da Campanha da OIT e CONATRAE o público presente emocionou-se com depoimento de um trabalhador ex escravo no Iriri, hoje assentado precariamente no Tocantins quando apelando para o presidente, o conclamou: ' Olha para nós, Sr. presidente, vista essa camisa!'. O presidente entrou mudo e saiu calado. ( LEONARDO SAKAMOTO: 'Vive la France' 03/02/2006).
Portanto, no bojo da insegurança alimentar está também à insegurança quanto á água potável sendo o dobro de a insegurança alimentar propriamente dita. Essa situação ofende diretamente o "direito humano à água" que consta no Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais do qual o Brasil é signatário. A omissão da sociedade civil a estes fatos, e a essa falta de compromisso do espírito de cada um que leva a menosprezar o mal distante, que não nos afeta ou simplesmente está no outro e não em nós.


Educação Sustentável
O desencontro entre a educação e cidadania planetária, são dois mundos que procuram um ao outro, mas não se encontram. É aqui que entra em cena a ecopedagogia: pedagogia da terra. Ela não é uma pedagogia a mais, ao lado de outras pedagogias. Seu sentido está como um projeto alternativo global em que a preocupação não está apenas na preservação da natureza, ou no impacto das sociedades humanas sobre o ambiente natural, mas num ponto de vista sustentável se visto do ponto de vista ecológico (Ecologia integral). Ela está ligada, portanto, a um projeto utópico: mudar as relações humanas, sociais e ambientais que temos hoje. Este é o sentido profundo da ecopedagogia ou da pedagogia da terra. A educação é uma das responsáveis pela a formação do homem, esta deverá estar vinculada aos princípios da dignidade, da participação, da co-responsabilidade, da solidariedade, da eqüidade e da ética. Prepara-lo é preparar as novas gerações, para agir com responsabilidade, ética e sensibilidade dando início a uma educação sustentável.
"O sistema não teme o pobre que tem fome. Teme o pobre que sabe pensar" que favorece sobremaneira, hoje, os modelos neoliberais não é "miséria material das massas, mas sua ignorância", ignorância que faz as pessoas esperarem soluções produzidas pelos sistemas. A função da educação de caráter reconstrutivo político, conclui o autor, "é desfazer a condição de massa de manobra, como bem queria Freire". (DEMO, 2000 ).
O desenvolvimento sustentável vendo de forma crítica tem um componente educativo formidável. Haja vista que a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação.
A ecopedagogia é uma pedagogia para promoção da aprendizagem contextualizada dando sentido das coisas para o cotidiano. Implica uma reorientação dos currículos para incorporar princípios defendidos por ela, como exemplo, orientar a concepção dos conteúdos e a elaboração dos livros didáticos. Jean Piaget ensinou que os currículos devem contemplar o que é significativo para o aluno. Esse conceito é correto, mas é incompleto. Os conteúdos curriculares têm que ser significativos para o aluno, e só terão relevância para ele, se esses conteúdos forem relevantes também para a saúde do planeta, para um contexto mais amplo.
Segundo (GUTIERREZ, 1998, p.21), "só encontramos sentido em caminhar vivenciando o contexto e o processo de desbravar novos caminhos; não apenas observando-o, por isso a educação sustentável é uma pedagogia democrática e solidária".
Como lugar de cultura e de estudo aberto a tudo a educação deve ser reconhecida por sua responsabilidade na participação dos grandes debates relacionados com o processo de transformação da sociedade.
Hoje precisamos de uma pedagogia da Terra e uma ecoformação, não somente para a tomada de consciência de nossa Terra - Pátria, mas também permitir que esta consciência se traduza em vontade de realizar cidadania terrena, proporcionando vinculação mais estreita entre os processos educativos a realidade e a liberdade das populações no exercício da cidadania planetária, para re-educação do homem/mulher, principalmente do homem ocidental, resultado de uma cultura cristã predatória, não podemos mais falar da Terra como um lar, como uma toca, para o bicho-homem, como fala Paulo Freire. Sem uma educação sustentável a terra continuará sendo espaço do nosso sustento. Mas não será o espaço de vida, o espaço do aconchego, de "cuidado". Existem múltiplas formas de viver em relação permanente com nosso planeta e compartilhar a vida com todos os que habitam ou o compõem. A vida só terá sentido se esta existe em relação. A raiz do dilema da humanidade está na forma como se aprende a pensar o mundo: dividindo-o em pedaços, precisa-se reaprender a reajustar a parte e o todo, o texto e o contexto, o global e o planetário e a enfrentar os paradoxos que a globalização competitiva trouxe consigo globalizando de um lado e excluindo do outro.

Considerações finais
A sustentabilidade tornou-se um tema gerador preponderante neste início de século, pensando em um projeto social global sem haver distância entre uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética.
A Ecopedagogia ou a pedagogia da Terra surge como uma luz capaz de reacender num futuro possível a esperança de uma vida digna para todos. A forma como iremos dar continuidade da nossa existência ao planeta cabe a nós decidirmos sobre sua morte ou vida, dos filhos e filhas desta continuidade. E a educação tem muito haver com essa responsabilidade precisamos de uma pedagogia, que recoloque a relação entre a natureza e o ser humano que em algum lugar do passado se perdeu, e hoje é preciso resgatar com urgência.
Uma pedagogia apropriada para essa reconstrução paradigmática, centrada na vida considerando as pessoas, as culturas, o modo de viver, o respeito, à identidade e à diversidade, apropriada para uma cultura de sustentabilidade e da paz. O ser humano é o único ser vivente que se pergunta sobre o sentido da sua vida, se somos humanos é porque sentimos e não apenas porque pensamos. A formação para a ética do gênero humano é fator primordial, esta não pode ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se nas mentes com base da consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. A pedagogia da terra tem seu fundamento nesse novo paradigma ético e numa nova inteligência do mundo. Neste sentido inteligente é aquele que tem um projeto de vida solidário. Solidariedade hoje não é apenas um valor, mas condição de sobrevivência de todos.
Uma ruptura paradigmática do paradigma mecânico, para aplicar o paradigma sistêmico parece fundamental para que a luta pelo direito da cidadania planetária não venha a ser prisioneira de uma visão instrumental inadequada para as formas ideológicas do atual quadro político, estabelecendo ligações de interdependência. Isto é, uma interação forte entre os povos pelos seus valores e uma educação que aproxime o Oriente do Ocidente. Dentro de uma mundialização, os alunos desenvolvem um conhecimento crítico dos desafios, conscientizando-se da interdependência mundial que lhes permitem acrescer habilidades para tratar dessas questões para a vida em sociedade; formando capital intelectualmente qualificado, uma vez que este se desenvolve em suas motivações intrínsecas. Educar para comunicar-se. Não comunicar para explorar, para tirar benefício do outro, mas para compreendê-lo melhor, isso implica em compreender e constatar que a dignidade humana está presente em todas as múltiplas condições em que se vivem homens e mulheres, sobrepondo-se a lógica de transformar tudo em mercadoria.
Se ainda não é chegada à hora de evaporar-se toda a diferenciação entre lutas sociais, tomando como referência o campo da ecopedagogia, todavia é bem visível o entrelaçamento entre o subjetivo e o objetivo presente na crescente afirmação da solidariedade, da paz com dignidade, das alternativas de trabalho, das redes de debates e de informação.
Estamos começando a assistir ao nascimento do cidadão planetário, embora um pouco tímido, este fato pode ser em decorrência de uma geração que chegou combatendo a ditadura e continua vivendo uma sociedade em que as tentações autoritárias não desapareceram por completo.
Se as necessidades são históricas, não sabemos quais as necessidades das futuras gerações. Entretanto, queremos ter a convicção que futuras gerações terão a esperança e certeza de que existe vida após a globalização competitiva.


REFERÊNCIAS
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar. 11ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
CAVALCANTI, Clóvis. Desenvolvimento e natureza: Estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, org. Fundação Joaquim Nabuco, 1995.
DEMO, Pedro. Conhecer e Aprender. Rio Grande do Sul: Artimed, 2000.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e práticas. 9 ed. São Paulo: Gaia, 2004. p. 226.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
GADOTTI, Moacir, Pedagogia da terra: Ecopedagogia e educação sustentável. São Paulo: Fundação Peiropolis, 2005. p. 24.
GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Record, 2000.
GUTIERREZ Francisco; PRADO Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária, São Paulo: IPF/ Cortez, 1998. p. 21.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 9 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2004. p.19 e 117.
TORRES, Carlos Alberto. (org) Paulo Freire e a educação Latino-Americana no Século XXI. Buenos Aires:Education Review. ISBN 950-9231-63-0 http://www.edrev.asu.edu/reviews%20acessado%20em%2009/4/2006, Clacso e Asdi, 2001.
GONÇALVES, Hortência Abreu. Manual de artigos científicos. São Paulo: Avercamp, 2004.

Autora

Nereis de Paula Ferreira
Profª. Universitária.

Graduada em Ciências Contábeis e Química, especialista em Cont. Gerencial e Empresarial e em Ciências da Educação. Ms. Educação - Cultura da Sustentabilidade.