quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ação na comunidade


Um exemplo da

'PEDAGOGIA A PARTIR DA VIDA COTIDIANA'

- ECOPEDAGOGIA -


é a ação na comunidade de Canoas/RS

em prol ao arroio da cidade

- Projeto Ambiental Arroio Araçá nosso Rio Guri.
Um projeto que envolve escolas municipais, estaduais e particulares, moradores e associações de diversos bairros, religiosidades, representantes e alunos das universidades, unindo-se a outros projetos para a defesa da natureza local.

Você pode ver as ações por aqui:
http://www.orkut.com.br/Main#Home.aspx
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=48064434
http://picasaweb.google.com/arroioaracacanoas
http://www.ceucabrscanoas.com.br/documents/blog_1.php
http://www.opaaraucaria.org.br/links.html

Cotidiano

A Pedagogia a partir da vida cotidiana pode ser orientada
através do livro de Carlos Rodrigues BRANDÃO:
Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos”.
Brasília/DF: Programa Nacional de Educação Ambiental/MMA, 2005. 180 p.

Resenha de Roberta Oliveira “Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos”
O livro recém-lançado de autoria de Brandão, antropólogo de formação e humanitarista de paixão, autor de outras dezenas de livros, carioca de coração sertanejo, mora há décadas em Campinas – SP, onde atua como professor na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP e no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia –
UFU.
O livro faz parte das atividades do Programa Municípios Educadores Sustentáveis do
Ministério de Meio Ambiente através de sua Diretoria de Educação Ambiental, que tem
como proposta educacional contribui para uma mudança cultural no sentido do ideário
ambientalista, e que perpasse a dinâmica cotidiana do município, respeitando as
diversidades e a cultura local, através de parcerias que possam apoiar e estimular
municípios que queiram atuar nesta direção.
Na obra fica clara a importância da valorização da cultura e práticas de educação popular
aliada ao meio ambiente, resultando então, numa educação ambiental através do
testemunho de vida, aponta como um sugestivo viés no processo de empoderamento da
população, trilhando o caminho em busca de Municípios Educadores Sustentáveis.
Na obra o autor “dar o seu testemunho” de vida em cada capítulo do livro trapaceando
com as palavras e conceitos numa geopoética harmônica procurando situar, orientar e
refletir policemicamente o que fomos, somos e seremos, na qual é expressa através de
nossos sentidos, significados, sensibilidades e saberes conforme nossas vivências e
referências. Ao trapacear com as palavras, navega duma escala do local ao global e versa em uma dimensão em que uma abriga a outra ao invés de se opor a ela. Lança luz
sobre a existência e dilemas do ser humano, com um olhar novo sobre o sentimento
crescente dia-a-dia de co-responsáveis pela nossa vida e pela vida no mundo. Contribui
para bem mais do que imaginávamos, comoum repositório de idéias e estímulos para
que definitivamente as pessoas comecem a desempenhar o verdadeiro papel de cada
um de nós (você e eu) de cuidar do nosso corpo, casa, rua, bairro, cidade, enfim a nossa
casa-nave - Terra, e conseqüentemente de buscar melhoria na qualidade de nossas
vidas e da vida do mundo onde vivemos.
Neste trabalho, a obra destaca, sobretudo a socialização dos seres vivos através da
transformação da natureza ao bel prazer do ser humano. Faz uma correlação entre o
modo de vida do ser humano e as demais espécies de seres vivos, onde vivem em
harmonia com a natureza, retirando dela apenas o necessário para sua sobrevivência.
Assim, parte do princípio da teoria de pensamento sistêmico, ou seja, o ciclo da vida
onde tudo tem haver com tudo que interage e está relacionado com tudo. Destaca o
Mundo da Vida em teia-rede, que começa aqui no lugar onde eu moro, aqui no lugar
onde nós vivemos até cubrir a terra inteira.
Diligentemente, o autor aprofunda os conhecimentos sobre a proposta do Programa
Municípios Educadores Sustentáveis informando os passos do trabalho e da participação
estimulando adesão de cada município. O foco do Programa concentra-se na mudança:
mudança no modo de sentir, de pensar, de se motivar e de agir das pessoas para poucoa-
pouco se transformarem mais ativa, solidária e mais aberta aos outros e à Vida. Deste
modo, toda ênfase voltasse para a palavra “participação”: do sair da passividade do
“reclamar” e se dar ao prazer de participar, de agir, de fazer, de trocar, de partilhar. E
para isso, reunir é a palavra-chave. A interação é o ponto de partida por meio de
encontros, diálogos, acordos e parcerias.
Como assevera Marcos Sorrentino, o autor nos ensina a “dar o testemunho”. “Esta obra
nos aponta um caminho”. É uma obra não só para governantes e organizações
ambientalistas, mas para leitores, pesquisadores, educadores e interessados em
compreender e contribuir para construção e consolidação de comunidades aprendentes
até tornarem-se Municípios Educadores Sustentáveis.
Trata-se, portanto, de um formidável e sugestivo convite à leitura, reflexão e ação por
todas e todos sobre a nossa realidade e reflete sobre nossos costumes e valores
culturais tradicionais tantas vezes esquecidos na nossa forma cotidiana de conviver e
interagir a luz de uma nova época marcada pelo espírito cooperativista, solidário e
conservacionista, onde as pessoas trocam experiências e conhecimentos e assim,
mutuamente, ensinam e aprendem.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

CONCEITO

O conceito de ecopedagogia,
criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire na Costa Rica, segue os princípios da “Carta da Terra”, documento anunciado em março de 2000 pela Unesco e que será adotado pela ONU no ano 2002 com o mesmo valor da “Declaração dos Direitos Humanos”. A “Carta da Terra” foi aprovada por um fórum da sociedade civil, com representante de todos os povos, e, por isso, conseguiu o status de documento da “cidadania planetária”.

A ecopedagogia trabalha com a fundamentação teórica dessa “cidadania planetária” cuja idéia é dar sentido para a ação dos homens enquanto seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência do planeta Terra. Ou seja, constitui-se um verdadeiro movimento político e educativo cujo projeto é mudar as atuais relações humanas, sociais e ambientais. A promoção das sociedades sustentáveis e a preservação do meio ambiente depende, de acordo com a ecopedagogia, de uma consciência ecológica e a formação dessa consciência depende da educação.

http://br.geocities.com/decioladislau/Ecoped1.htm

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Cotidiano e a Sustentabilidade

Trata-se da pedagogia orientada para a aprendizagem do sentido das coisas
a partir da vida cotidiana,
tendo como objetivo a promoção das sociedades sustentáveis.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ecopedagogia e Cidadania Planetária

Resenha: Ecopedagogia e Cidadania Planetária.
Professor MS. João Beauclair

Este interessante livro trata de uma temática essencial para a educação do século XXI. Desde a sua apresentação, intitulada Cidadania Ambiental, elaborada por Alicia Bárcena, e a apresentação feita pelo eminente educador brasileiro, Moacir Gadotti, com o texto Cidadania planetária, a temática Ecopedagogia ganha destaque e exemplificação. Trata-se, entretanto, de um livro oriundo de um programa coordenado pelos autores Francisco Gutiérrez e Cruz Prado, organizado pelo PNUMA – Programa de Cidadania Ambiental Global.Oriundo de uma travessia histórica, o problema ambiental supõe o reconhecimento e a prática da planetariedade, que é percebermos o planeta terra como um ser inteligente e vivo. Isso se refere a uma mudança paradigmática onde a dimensão educativa ganha ênfase cada vez maior. No decorrer dos capítulos que compõem as diferentes partes do livro, ganha cada vez mais destaque a idéia de que somos todos parte de uma mesma Nave Mãe Terra, como sempre nos lembra Leonardo Boff. Na primeira parte deste livro, temos os referenciais teóricos que nos mostram novas perspectivas, onde seja possível superar a lógica racional, hierárquica e dominante por uma outra ordem, mais intuitiva, processual e relacional, onde a flexibilidade seja predominante e essencial. Inicia-se esta primeira parte com o capítulo 1 Novas Categorias interpretativas, trazendo reflexões sobre o paradigma emergente, que nos leva para novos modos de ver, sentir, perceber e agir, onde novos valores e comportamentos fomentem novas atitudes e novos sonhos. Um aspecto relevante aqui lançado é o de revalorizar a consciência como essencial ao processo de construção de uma nova harmonia ambiental, focalizando novas relações com o planeta terra e com valores que refletem tolerância, igualdade, biodiversidade, e promoção cultural a partir da dimensão ética do ser humano. Compreende ainda neste primeiro capítulo interessante discussão sobre ecologia sustentável e sociedade sustentável, apontando para referenciais que podem colaborar para a mudança da realidade, constituindo uma sociedade nova com a superação de moldes rígidos que constituem nossa formação. Interessantes sugestões para a reflexão pessoal e debate em grupo fazem parte do final deste capítulo. No capítulo 2 amplia-se a discussão, clareando os suportes conceituais sobre planetariedade, partindo do conceito de aldeia global proposto por Marshall McLuhan, na década de 60 do século passado ao conceito de dimensão planetária, presente nos documentos e discussões contemporâneas oriundas da ECO- 92. A formação pessoal é destacada quando os autores validam as dez características essenciais do perfil das pessoas da sociedade planetária propostas por Francisco Vio Grossi, indo além da dimensão pessoal e propondo a construção dos sujeitos coletivos, partindo da cotidianidade, da planetariedade e da capacidade de sentir e expressar a vida e a realidade tal como deve ser vivida e sentida.No terceiro capítulo, Francisco Gutierrez e Cruz Prado conseguem chamar nossa atenção para as novas práticas necessárias à participação ativa de todos, que desde a ECO- 92 até os movimentos sociais mais recentes, estão diferenciando o teor das declarações do que denominam processos de demanda, que em seu caráter educativo deve priorizar as dimensões sociais, políticas, técnicas, científicas, pedagógica e espaço-temporal, necessitam estar presentes nos diferentes programas de formação humanísticas voltados à ecologia e à discussão sobre a continuidade da vida no nosso planeta. Um outro aspecto também evidenciado neste capítulo é a essencialidade do processo que, para ser de fato educativo, deve trabalhar e inter-relacionar os seguintes elementos constitutivos: atores sociais como agentes, necessidade de sentido, relações sinérgicas, recursos e cotidianidade (tempo e lugar) e produto. Na segunda parte deste livro, intitulada Ecopedagogia, temos os capítulos 4 e 5. O capitulo 4 trata da proposta de formação em cidadania ambiental e sustentabilidade, a partir do processo pedagógico em si. Partindo das experiências em educação popular, os autores trabalham com o significado do ato de promover, compreendendo que a ecopedagogia está voltada, principalmente, à promoção da aprendizagem a partir da vida cotidiana. Neste sentido, com maestria os autores desenvolvem chaves pedagógicas à aprendizagem a partir do cotidiano, elaborando alguns indicadores de todo este processo, que podem auxiliar aos que estão envolvidos nos movimentos de ensinar e de aprender que estejam vinculados à ecopedagogia. De grande valia é atentar para os indicadores citados, que expressam questões práticas das mudanças paradigmáticas discutidas.Na terceira parte deste livro, os autores se voltam para a prática em si, iniciando o capitulo seis com interessante discussão a respeito dos espaços de aprendizagem, compreendidos em seus sentidos mais amplos: desde o espaço físico até o transcurso do tempo. É proposto aqui interessante análise de sete capacidades básicas para a construção de uma nova cultura, a cultura da sustentabilidade: resgatando a sensibilidade, a intuição e exaltando a consciência do poético, das emoções e da alegria, do amor e da satisfação. Enfim, este é um livro ímpar, para ser lido, debatido, refletido e discutido em diferentes espaços e tempos sociais onde haja a preocupação com o educar para a vida planetária. Trata-se de um belo trabalho, onde as palavras remetem ao pensar criativo e crítico da realidade, tal como ela é constituída. Sua leitura faz com que nossos pensamentos se abasteçam de novas possibilidades de ver e viver um outro mundo, mais humano e ecopedagogicamente constituído. Notas:1- GUTIÉRREZ, Francisco e PRADO, Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária. Guia da Escola Cidadã vol. 3. São Paulo: Instituto Paulo Freire/Cortez Editora, 2000.
Joao Beauclair

sábado, 28 de junho de 2008

ECOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ecopedagogia
e concepção de Educação

􀂄 Reflexão sobre a realidade: buscar desvelamento de elementos opressores; acessar verdade que está encoberta através da apropriação crítica da mesma
􀂄 Ação transformadora sobre esta realidade: é um caminho para a emancipação do sujeito.
􀂄 Educação é essencialmente um ato: possibilitar ao/à educando/a a compreensão de seu papel no mundo e de sua inserção na história
􀂄Ponto de partida: temas relacionados ao contexto do/a educando/a, compreensão inicial que tem do problema,
􀂄 Estabelecimento de um processo dialógico: entre educador(a) e educando(a), entre ambos e a realidade
􀂄 Diálogo visa ampliação da compreensão inicial e intervenção na realidade.

Maria Rita Avanzi
http://homologa.ambiente.sp.gov.br/EA/adm/admarqs/MariaRita.pdf

segunda-feira, 3 de março de 2008

Ação Ecopedagógica
Projeto Arroio Araçá: Nosso Rio Guri

Fonte: Jornal O TIMONEIRO Canoas/RS, 14 de fevereiro de 2008. Edição nº 2272 Notícias
Educadores criam projeto para o arroio Araçá.

Com a intenção de conscientizar a população sobre a poluição do Arroio Araçá um grupo de professores de escolas públicas criou o projeto Arroio Araçá – Nosso Rio Guri, que estuda o histórico e a importância do Arroio na Cidade. O programa integra estudantes e professores de escolas públicas em uma ação ambientalSegundo a professora, Maria Inês Pacheco, a população precisa aprender a cuidar do meio ambiente. “Precisamos ter cuidado com a natureza, e o Arroio Araçá faz parte do nosso dia-a-dia. Cuidar do Arroio é cuidar da saúde pública. Muitas pessoas não conhecem o Arroio Araçá e chegam a chamá-lo de valão, mencionar-lo dessa forma é um erro gravíssimo”, diz. “Temos lugares bonitos e ricos em beleza natural na nossa Cidade. Porém o município carece de serviço de preservação ambiental”, destaca a educadora.
Para a diretora da Escola de Educação Infantil, Talina Romano, as crianças precisam aprender como preservar a natureza. “A educação infantil deve ter aulas sobre o meio ambiente. Dessa forma as crianças acabam tendo contato direto com a natureza. Não podemos nos esquecer que os pequenos de hoje serão o futuro”, declara Talina.Para os interessados em receber palestras em instituições de ensino, igrejas, associações, entre outros é necessário agendar um horário através do telefone: 3465.7792. O programa pode ser acompanhado através da comunidade Arroio Araçá - Nosso Rio Guri, encontrada no site de relacionamento Orkut
Comunidade ARROIO ARAÇÁ 'preciso de amigos'

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Estudos...


OS ESTUDOS ABAIXO APRESENTADOS TEM A COLABORAÇÃO DE VÁRIOS EDUCADORES, E ESTÃO GRAVADOS EM UM CD QUE CADA UM RECEBEU NO FINAL DO ANO DE 2005.


"Este CD confirma Gutiérrez, pois é a compilação do trabalho e dos nossos estudos da equipe nos anos entre 2001 e 2005. O cotidiano foi enriquecido pelo esforço de cada um para fortalecer a rede interna na busca pelo Cuidar. Confirma, também, Freire que colocou: 'Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, nos educamos juntos em comunhão'. É um 'livro eletrônico', uma recompensa pela dedicação e pelo carinho mútuo nestes 5 anos de trabalho no Projeto Social EDUCANDO PARA A CIDADANIA E SOLIDARIEDADE."
(Partes da carta de apresentação feita pela EQUIPE DIRETIVA em Dezembro 2005)

NO ANO DE 2005 O PROJETO SOCIAL EDUCANDO PARA A CIDADANIA E SOLIDARIEDADE DA ESCOLA CORAÇÃO DE JESUS/ESTEIO - INSTITUIÇÃO VERZERI - RIO GRANDE DO SUL - BRASIL TEVE SUA PROPOSTA PEDAGÓGICA ENRIQUECIDA COM OS ESTUDOS SOBRE A ECOPEDAGOGIA. TAIS ESTUDOS AQUI APRESENTADOS NÃO PODERIAM FICAR ARQUIVADOS PELO EMPENHO E PELAS RIQUEZAS QUE ESTA EQUIPE PREPAROU.

"Pedagogia é o trabalho de promoção de aprendizagem por meio de recursos necessários ao processo educativo no cotidiano das pessoas. A vida cotidiana é o lugar do sentido da pedagogia pois a condição humana passa inexoravelmente por ela. A mídia eletrônica, nos interligando ao mundo todo, não anula esse lugar, pois "a revolução eletrônica cria um espaço acústico capaz de globalizar os acontecimentos cotidianos"(GUTIÉRREZ, 1996)

'É preciso cuidar da vida que há dentro da gente e em todo lugar, é preciso cuidar da vida que há na Terra e no Mar...' (Padre Zezinho)

A CARTA DA TERRA


estudos apresentados por
Scheila, Jéssica, Sandra, Cristina.


Ecopedagogia é a educação para o cuidar
A Carta da Terra é um compromisso com este 'cuidar'


O projeto da Carta da Terra inspira-se em uma variedade de fontes, incluindo a ecologia e outras ciências contemporâneas, as tradições religiosas e as filosóficas do mundo, a literatura sobre ética global, o meio ambiente e o desenvolvimento, a experiência prática dos povos que vivem de maneira sustentada, além das declarações e dos tratados intergovemamentais e não-governamentais relevantes.Sua proposta central é a construção de uma cidadania planetária a partir de uma ética humana comum e solidária.

Resultado de um processo intercultural de mais de uma década realizado em nível mundial, a Carta da Terra foi construída tanto por especialistas como por comunidades de base que se encontraram na ECO 92 para lançarem seu alicerce.
No início de 1997 formou-se um comitê redator internacional que ajudou no processo de consultas.
Em março de 2000 foi aprovada a versão final numa reunião celebrada no escritório da Unesco, em Paris.
No dia 29 de junho de 2000 ocorreu o lançamento oficial no Palácio da Paz, em Haya, na Suíça.
A Terra é nossa Casa, nosso lar;
Somos parte de um grande Universo.

Qual nossa situação Global?;
O que podemos e devemos fazer?

Quais os Desafios para o Futuro?
A Responsabilidade é Universal.

Somos todos responsáveis!

É clara a necessidade de uma mudança fundamental. A escolha está diante de nós: proteger a Terra ou participar de nossa própria destruição e da diversidade de vida. Devemos reinventar a civilização industrial e tecnológica, encontrando novos caminhos para equilibrar o individual e a comunidade, o possuir e o ser, a diversidade e a unidade, curto prazo e longo prazo, utilizar e nutrir.No meio de toda nossa diversidade, somos uma humanidade e uma família da Terra compartilhando um destino. As ameaças com as quais nos defrontamos requerem uma visão ética global. As associações devem ser constituídas e a cooperação deve emergir em níveis locais, bioregionais, nacionais e internacionais. Numa interação solidária e com a vida em comunidade, nós, os povos do mundo, nos obrigamos a agir guiados pelos seguintes princípios que se inter-relacionam:

  • RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

  • INTEGRIDADE ECOLÓGICA

  • JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

  • DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ
1.Respeitar a Terra e todos os tipos de vida. Todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor; acreditar na dignidade de todos os seres humanos, no seu potencial intelectual, artístico, ético e espiritual.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor aceitando o direito de ter e usar os recursos naturais, bem como o dever de impedir causar danos ao meio ambiente e proteger o direito das pessoas. Aqueles que mais sabem e mais estudam tem a responsabilidade de colaborar e dividir este saber com todas as pessoas.

3. Criar sociedades justas, participativas, sustentáveis e pacíficas garantindo os direitos humanos e as liberdades básicas para todas as pessoas, independente da classe social, dando a cada um a oportunidade de desenvolver seu potencial. Sociedades onde as pessoas tenham condições de vida: alimentação, casa, roupa, educação saúde, e que sejam ecologicamente responsáveis.

4. Garantir a qualidade de vida na Terra para as atuais e as futuras gerações, reconhecendo a importância do cuidado com a Terra para que as atuais e próximas gerações tenham as mesmas condições e acesso à vida saudável.

5. Proteger a diversidade da vida na Terra. Proteger é uma ação de respeito. Devemos impedir todo tipo de desrespeito como maus tratos em geral (pessoas, animais, plantas).

6. Prevenir problemas ao ambiente e ter muito cuidado. Evitar fazer as coisas que sabemos que estão erradas como poluir, queimar, consumir demais, gastar muita energia, fabricar produtos prejudiciais. Assim estaremos prevenindo problemas.

7. Criar formas de produção, consumo e reprodução que protejam a vida na Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário. Produzir de forma moderada, consumir de forma moderada, informar as pessoas sobre o problema de ter muitos filhos e filhas.

8. Estudar sobre a vida na Terra e trocar experiências. Valorizar todos os tipos de conhecimento que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

9. Acabar com a pobreza e resgatar os direitos humanos. Colaborar com o combate a fome e valorizar os alimentos evitando o desperdício.

10. Promover o desenvolvimento humano nas empresas e instituições. Que os empresários e as instituições que se posicionem em favor dos seus funcionários colaborando com a melhoria da qualidade de vida em todos os níveis.

11. Acabar com a discriminação contra as mulheres. Valorizar as mulheres evitando o desrespeito, pois elas são tão importantes quanto os homens.

12. Defender os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

13. Fortalecer a democracia em todos os níveis. Que as políticas públicas façam valer os direitos e as necessidades dos cidadãos e cidadãs.

14. Incluir na educação formal (escola) e aprendizagem ao longo da vida (em casa, na igreja, na comunidade, no trabalho) os conhecimentos para um modo de vida que não prejudique o ambiente.

15. Tratar todos os seres com respeito e consideração. Amar a todos os seres, pois todos são importantes e dignos.

16. Promover uma cultura do respeito, da não violência e da paz. Respeitar diferentes culturas, diferentes religiões, diferentes idéias de forma que todos possam viver em harmonia mesmo que pensem de formas diferentes. Isto não é fácil, mas será possível se seguirmos estes princípios.

A Carta de Terra,
uma nova lei Universal,
deverá ser aceita, respeitada e praticada por todas nações e povos do mundo
como um novo começo,
uma vez que, em nenhuma época,
a humanidade teve consciência da interdependência a que está sujeita e da responsabilidade a ser compartilhada na defesa da Vida.
Como vimos acima ela apresenta Princípios que nortearão atitudes para a efetiva mudança .
RESUMO: A idéia da Carta surgiu na Cúpula da Terra - ECO 92, celebrada no Rio de Janeiro em 1992, mas a falta de acordo postergou até 1997 o seu nascimento, quando um primeiro rascunho foi elaborado durante a Cúpula Rio+5. A cantora argentina Mercedes Sosa representou a América Latina no grupo que redigiu a sua minuta. A versão final foi aprovada em 2000, em Haia, Holanda, e inclui quatro capítulos sobre integridade ecológica, respeito e cuidado da comunidade da vida, justiça socioeconômica, democracia, não-violência e paz. No Brasil o movimento tem o apoio do Instituto Paulo Freire, que juntamente com Conselho da Terra e UNESCO-Brasil, organizou o Primeiro Encontro Internacional - A CARTA DA TERRA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO - São Paulo, 23 a 26 de agosto de 1999. O resumo dos trabalhos de cada autor pode ser encontrado no site: http://www.paulofreire.org/Movimentos_e_Projetos/Cidadania_Planetaria/Ecopedagogia/carta_da_terra.htm
"Carta da Terra na Perspectiva da Educação - Um desafio para o terceiro milênio"
Por Moacir Gadotti e Gustavo Belic Cherubine* 07 de maio de 2000
Se olharmos para o céu atentamente em uma noite de lua minguante, longe das luzes artificiais dos grandes centros urbanos, poderemos identificar no espaço infinito uma miríade de corpos celestes que estão distribuídos por cerca de um bilhão de galáxias, cada galáxia com bilhões de astros. A fantástica e deslumbrante visão proporcionada pela natureza teve origem na grande explosão de um único corpo celeste, formando o universo que conhecemos e que, segundo os estudiosos, continua em expansão. O grande espaço universal ocupado pelos corpos celestes é medido por distâncias em anos-luz, tornando tudo ainda mais gigantesco, com proporções inimagináveis que continuamente despertam na humanidade o desejo de decifrar a origem e a totalidade do universo e da vida. As mesmas dimensões do universo que provocam na humanidade um desejo pelo seu conhecimento que nunca finda, também servem para demonstrar o quanto o fenômeno da vida é raro. Até onde sabemos, dentro da infinitude espacial, somente no minúsculo corpo celeste chamado terra a vida se fez, e com uma diversidade que nos fascina e encanta. Foi necessário que o caudaloso rio do tempo transcorresse para que as condições adversas da grande explosão abrandassem e longos processos sucessivos de acomodações e evoluções tivessem início e fim, continuamente, para que condições invulgares e de delicada textura tornassem possível o milagre da vida na Ecosfera, a fina camada que recobre o corpo da terra. Na história da humanidade, o século 20 é cultuado pelos ocidentais como um período de tempo onde pudemos avançar enquanto seres criadores de obras e objetos técnicos e informacionais, cuja função e finalidade seria a de contribuir com o desenvolvimento e o progresso material dos seres humanos. É inegável o avanço proporcionado por processos produtivos e tecnológicos, geradores de produtos e soluções para as questões práticas da vida humana, principalmente as relacionadas aos setores de comunicação, transporte e consumo. Mas, ao analisarmos detidamente o fim de século com um olhar acurado e sensível de observador interessado nos rumos da humanidade, podemos perceber que os valores universais construídos ao longo dos tempos por diversas culturas e pensamentos - valores e conceitos sobre a paz, a solidariedade e a harmonia - há muito deixaram de existir no cotidiano da vida do planeta. É como se a humanidade não levasse em consideração o quanto foi necessário de tempo e de adequação do espaço para que a vida, e toda espécie de vida, acontecesse no minúsculo corpo celeste chamado Terra. A Carta da Terra, cujo papel e significado tem por base os esforços das Nações Unidas e dos povos em identificar as questões fundamentais relativas à segurança mundial, surgiu primeiramente na Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro de 3 a 14 de junho de 1992, juntamente com outro importante documento mundial intitulado Agenda 21. Os dois documentos que nasceram juntos são muito diferentes, mas destaca-se uma diferença fundamental: a Carta da Terra foi aprovada no Fórum Paralelo da Sociedade Cível e não na plenária oficial dos chefes de Estado. Tal condição histórica de nascimento é determinante para dizermos que a Carta da Terra é o legítimo documento da Cidadania Planetária, pois a composição do Fórum Paralelo da Sociedade Civil representava todos os povos, principalmente os que não possuem "governo" ou "chefes de estado", como exemplo podemos citar os Xavantes, os Curdos e os Pigmeus. Como podemos pensar numa sociedade global se só aceitamos como legítimos os anseios supostamente populares levados às plenárias mundiais por chefes de estado constituídos? E os povos que não se organizam como os estados-nação, principalmente os que se encontram nos continentes diversos culturalmente do Ocidente dito "moderno"? Como defendermos - outro exemplo - os direitos dos Beduínos Nômades? A Cidadania Planetária, anunciada na Carta da Terra e que no momento está sendo fundamentada teoricamente pelos estudiosos da Ecopedagogia e da Pedagogia da Terra, nos dará sentido para agirmos enquanto seres vivos que compartilham com demais vidas a experiência do Planeta Terra. Diferentemente da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU, em 1948, por um grupo de especialistas e negociada pelos Estados Membros da organização sem que houvesse consulta prévia aos povos, a Carta da Terra, graças a um esforço que permanecerá e mobilizará numerosas pessoas e instituições num imenso processo pedagógico, foi proclamada no dia 14 de março de 2000 pela Unesco, em Paris, e deverá ser apresentada e assumida pela ONU no ano 2002 com o mesmo valor da Declaração dos Direitos Humanos. Nós, do Instituto Paulo Freire e do Movimento da Ecopedagogia, que participamos do I Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, realizado em São Paulo entre os dias 23 e 26 de agosto, acreditamos que a aprovação poderia ser melhor precedida por um abrangente processo de consulta que, partindo da demanda dos povos, promulga-se os direitos da vida da terra, incluindo os Direitos Humanos. Teremos tempo até 2002 para continuarmos realizando o trabalho que iniciamos no ano passado com os Educadores que estiveram conosco nos quatro dias de trabalhos e vivência. A Carta da Terra, já percebemos, não é um documento conhecido como o é a Agenda 21: poucas pessoas conhecem e entendem seu significado, especificidade e importância. Para os Educadores, a Carta da Terra é um projeto inspirado em uma variedade de fontes que inclui a ecologia, as ciências contemporâneas, as tradições espirituais e filosóficas do mundo, além da literatura sobre ética global, o meio ambiente e o desenvolvimento, a Arte, a experiência prática dos povos que vivem de maneira sustentada e nas declarações e nos tratados intergovernamentais e não-governamentais relevantes. A Carta da Terra é parte integrante de um projeto social global de construção de uma sociedade humana que respeita e aplica cotidianamente a Ética, a Cultura da Sustentabilidade e a Prática da Não-violência. Muitos estudiosos já identificaram no conceito de desenvolvimento sustentável um formidável componente educativo, pois a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. Como a Carta da Terra, além de ser um projeto dialógico e construtivo, é também um projeto político educacional que terá a função de contribuir para a criação de melhores condições e qualidade de vida, um dos espaços mais privilegiados para que a construção do documento seja feito com a verdadeira expressão dos povos é a Escola. O educador, que através dos tempos cumpre o papel magnífico de impregnar de sentido o caminhar da humanidade, terá neste novo século um papel decisivo e único. Para a construção de um novo milênio no qual uma verdadeira sociedade planetária comungue dos mesmos princípios e ideais civilizatórios, será preciso que o Educador ingresse no processo de consulta e participe do Movimento da Ecopedagogia, em parceria com os animadores da Carta da Terra que já estão trabalhando nesse sentido; pois somente assim conseguiremos construir uma metodologia da Carta da Terra que parta do universo sócio-cultural dos segmentos com os quais trabalha, que promova o pensar, o perguntar, o construir junto o conhecimento sobre nosso Planeta - próximo e distante - e que nos leve, coletivamente, a agir de maneira consciente sobre o espaço em que vivemos. A Escola se tornará um dos grandes palcos de discussão dos rumos da vida no planeta, partindo da elaboração dos seus respectivos projetos político-pedagógicos, aliada a uma organização curricular coletiva que envolva democraticamente os animadores da Carta da Terra, coordenadores pedagógicos, educandos, pais e mães, visando a uma seleção crítica, criteriosa, fundamentada e flexível de conteúdos, dos trabalhos a serem desenvolvidos e das metodologias a serem adotadas. A metodologia da Carta da Terra reconhece que a seleção de conteúdos é um recorte do conhecimento universal historicamente produzido e, assim, pode ser reconstruído e recriado. Por ser um recorte, implica numa opção, e toda opção é ideológica. É fundamental a clareza em torno do poder de escolher um conteúdo e não outro e qual o porquê desse novo modo de abordá-lo. O desafio lançado aos educadores e às escolas é o de contribuir para a construção da Carta da Terra a partir de uma visão interdisciplinar que se utilize do variado universo simbólico da linguagem e da comunicação humana, considerando a contribuição das diferentes áreas do conhecimento, integrando-as no processo de busca de compreensão dos problemas ecológicos e organizando-as por meio de atividades expressivas e criativas tais como: estudo da realidade local, observação das condições ambientais, caminhadas ecológicas que despertem a consciência da necessidade de preservação da natureza, discussão e debate de temas pertinentes, palestras, filmes, fotografias e slides, teatro, música, dança, desenho, esportes, comemorações, festas e jogos. No Brasil, o Instituto Paulo Freire, enquanto membro da coordenação nacional da Carta da Terra, por meio de acordo de cooperação com o Conselho da Terra, está incumbido de realizar a consulta mundial para sistematizar as contribuições dos educadores à Carta da Terra. A Rede Mundial pela Carta da Terra está aberta a toda escola e cidade que queiram ajudar a escrever o futuro do nosso planeta privilegiando os seguintes eixos temáticos: Visão Prospectiva de Sistemas Educacionais, Pedagogias de Afirmação Ética, Educação e Cultura da Sustentabilidade, Educação para a Cidadania Planetária e Sistemas Educativos Planetários de Comunicação e Intercâmbio.
Moacir Gadotti é Professor titular da USP, Diretor do Instituto Paulo Freire e auto de vários livros.Gustavo Belic Cherubine, técnico agropecuário, bacharel em Direito, pesquisador CIETEC/USP, membro CONAT e coordenador do Programa de Ecopedagogia do Instituto Paulo Freire. email: cherubin@paulofreire.org
A CARTA DA TERRA COM SUGESTÕES PARA TRABALHOS COM CRIANÇAS http://sites.uol.com.br/projetovida Berenice Gehlen Adams

Cidadania Planetária



estudos apresentados por Bianca, Ivone, Zeno, Camila


EDUCAR PARA A CIDADANIA PLANETÁRIA
- EIS UM DOS DESAFIOS DA ECOPEDAGOGIA.

Cidadania planetária é uma expressão que abarca um conjunto de princípios, valores e atitudes que demonstra uma nova percepção da Terra como uma única comunidade. É preciso que se trabalhe pedagogicamente a partir da vida, do dia a dia, do cotidiano, a partir das necessidades e interesses das pessoas. É nesse sentido que a Ecopedagogia é a pedagogia que promove a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana. É uma pedagogia democrática e solidária, porque, encontramos nela, sentido ao caminhar, e não apenas observando o caminho. Toda e qualquer atividade que ajude o educando a perceber sua relação com o mundo que o cerca, que o auxilie a viver em harmonia com a Natureza, que desperte sua conciência para a necessidar do CUIDAR em qualquer instância de sua vida, estará desenvolvendo a Cidadania Planetária. Enquanto o ser humano não for capaz de cuidar de cada metro cúbico de onde vive, não poderá participar com êxito da preservação da vida e do meio ambiente. "A Carta da Terra precisa estar associada à Agenda 21 e ter um grande suporte na sociedade civil. Os governos podem assinar tratados, podem adotar a Carta da Terra, porém não cumprirão suas promessas se a sociedade civil não estiver vigilante e não pressionar os governantes para que eles cumpram o que assumiram. O que foi socialmente construído pode ser socialmente transformado. Precisamos chegar lá juntos e, sobretudo, em tempo." Moacir Gadotti

O Professor Celso Marques trouxe um exemplo de como exercer a cidadania planetária, a partir de nosso cotidiano, expresso no cuidado do sentinela do pampa com o seu meio.

"Temos na paisagem do Pampa riograndense um pássaro chamado quero-quero, que é considerado a sentinela do Pampa. O quero-quero, diferentemente de outras aves, faz os seus ninhos no chão, vivendo a maior parte do tempo em contato com a terra e apegado ao lugar onde vive. A este lugar em que o quero-quero, outros bichos e o próprio ser humano costumam ficar, no linguajar gaúcho nós chamamos de "querência". Em português esta palavra se reporta ao verbo querer. A querência é um lugar que tem uma vontade, um querer originário, conforme a própria etimologia da palavra indica. Mas não é um querer isolado e separado do querer humano, dos animais e das plantas que ali vivem. O querer da querência requer o querer de tudo o que ali vive, de tudo o que pertence ao lugar, inclusive a paisagem. Ser apegado a um determinado lugar é ser aquerenciado. O processo de se apegar a um lugar se expressa com o verbo "aquerenciar". Ser aquerenciado significa também estar de bem com a vida, estar na posse da plenitude do sentido da vida. Na sabedoria camponesa aqui do sul do Brasil, da Argentina e do Uruguai, do gaúcho, a felicidade é o próprio sentido de pertencer a um lugar. A querência é a intimidade com a natureza e com as coisas do local em que se vive. É ser parte das histórias das pessoas, dos animais e das plantas de um lugar. É ter a própria identidade pessoal, a própria história individual, inseparável de toda a teia destas histórias. É estar em casa no mundo. Por outro lado a pessoa que é infeliz, que não encontrou o seu lugar no mundo, que está de mal com a vida, é "desaquerenciada". A pessoa desaquerenciada não tem paradeiro fixo, vive inquieta, sempre a procura de um outro lugar, insatisfeita, angustiada, no estado de carência, de falta. Na perspectiva da sabedoria gaúcha, o problema ecológico é a humanidade estar desaquerenciada da Mãe Terra, da Pachamama, de Gaia, a suprema morada do homem. O Fórum Social Mundial é a uma tentativa planetária de aquerenciar a humanidade na Terra. Mas para que isso aconteça, cada ser humano deve ser alerta e vigilante como o quero-quero, deve exercer a sua condição de cidadania planetária defendendo a Terra e a Humanidade em cada local onde vive. Cada cidadão do mundo pode se inspirar no exemplo da sentinela do Pampa: ao pressentir a aproximação de um perigo, o quero-quero dá o alarme, começa a gritar o canto que deu origem ao seu nome e a fazer investidas contra o intruso através de vôos rasantes. "

Trabalhos da Conferência de Fritjof Capra, Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, no sábado, 25 de janeiro de 2003.

Quem cuida dos Cuidadores ?


QUEM CUIDA OS CUIDADORES?

Esta pergunta circundou os profissionais do Projeto Social Educando para a Cidadania e Solidariedade, em Esteio/RS. A grande resposta foi procurada juntos: refletindo, estudando, planejando, avaliando a realidade. Desta abertura para 'fazer juntos' surgiram estudos sobre a Ecopedagogia durante o ano de 2005, paralelo ao desenvolvimento do tema da Campanha de Fraternidade - FELIZES OS QUE PROMOVEM A PAZ.

"Entendemos que nossa primeira grande busca deve ser a Paz Interior, para auxiliar no exterior."

"RESGATANDO O SENTIDO DA VIDA -

de Sandra Magalhães Albetino, de Londrina/PR, escreveu para o Jornal Corujinha (2005 nº 52)

Os desafios da crise de passagem que atravessamos nos convoca a descobrir novas propostas. Elas não devem ser procuradas no mundo esterno, mas no interior de cada ser humano. Os avanços científicos, o uso incoseqüente dos meios naturais e tecnológicos vem provocando a escasses dos elementos básicos para nossa sobrevivência e exaurindo o equilíbrio físico-químico da Terra. A atitude utilitária, desencadeada pelo estilo de vida competitivo e direcionado para o prazer, converte tudo em objeto de lucro e de posse. Como resultado desse consumismo desenfreado, vemos a destruição dos ecossistemas planetários, o abismo cada dia maior entre excluídos e incluídos, a degradação dos valores, e outras tantas doenças do TER e do esquecimento do SER. Investir na cultura do ser, no resgate profundo sentido da vida é missão de todos. Colocar ordem, equilíbrio e harmonia em nosso interior, inocular qualidade em nossos pensamentos, emoções, atitudes e ações é uma tarefa prioritária. Enquanto educadores, trabalhando em comunidades de aprendizagem, temos um espaço privilegiado de participação no desenvolvimento humano. Este privilégio implica na grande responsabilidade de facilitar aos educandos o auto-conhecimento, a prática da autocrítica, a autoria de seu próprio processo de transformação, a receptividade à ação do outro, a interação com o meio... Precisamos estar conscientes que só desencadearemos esse processo se o estivermos vivenciando em nosso interior. É primordial investirmos constantemente em nós mesmos, nos talentos que nos foram confiados, em nossa plenitude como seres humanos, para que possamos alcançar nossa plenitude enquanto educadores."

"...desafio a todos aqueles professores ...que querem assumir o compromisso com uma sociedade mais justa, desenvolvendo a sua ação pedagógica dentro e fora da escola conhecendo, porém, os limites da educação no conjunto geral das práticas sociais."
PAULO FREIRE no livro MEDO E OUSADIA.

Ecopedagogia trata da pedagogia orientada para a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida quotidiana, tendo como objetivo a promoção das sociedades sustentáveis. O conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire na Costa Rica, segue os princípios da "Carta da Terra", documento anunciado em março de 2000 pela Unesco e deverá ser adotado pela ONU com o mesmo valor da "Declaração dos Direitos Humanos". A "Carta da Terra" foi aprovada por um fórum da sociedade civil, com representante de todos os povos, e, por isso, conseguiu o status de documento da "cidadania planetária". A ecopedagogia trabalha com a fundamentação teórica dessa "cidadania planetária" cuja idéia é dar sentido para a ação dos homens enquanto seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência do planeta Terra. Ou seja, constitui-se um verdadeiro movimento político e educativo cujo projeto é mudar as atuais relações humanas, sociais e ambientais. A promoção das sociedades sustentáveis e a preservação do meio ambiente depende, de acordo com a ecopedagogia, de uma consciência ecológica e a formação dessa consciência depende da educação.
http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario

SUSTENTABILIDADE

estudos apresentados por Janete, Marli, Ir. Sibila, Ir. Maria

Sustentar: segurar por baixo, servir de escora, suportar.
•Sustentabilidade: um dos pilares da ecopedagogia, não têm haver apenas com biologia, economia e a ecologia. Tem haver com a relação que mantemos como nós mesmos com os outros e com a natureza. Conforme Gadotti
O cenário não é otimista - Podemos destruir toda a vida no planeta neste milênio que se inicia. Uma ação conjunta é necessária ... E fundamentada em outros princípios éticos que não os baseados na exploração econômica, na dominação política e na exclusão social”

Paradigma Clássico - Visão industrialista predatória desenvolvimentalista que não da conta de explicar o momento presente e responder necessidades futuras. Precisamos construir um novo paradigma que seja fundamentado na visão sustentável do planeta terra.


Visão Sustentável - Visão que o cidadão local assume também a identidade indispensável de cidadão planetário, com uma consciência voltada para o cuidado do próprio corpo, sem o esquecimento da comunidade. Enfim , o cuidado de si mesmo sem o esquecimento do outro; Seja ele quem for, esteja onde estiver.


A sustentabilidade depende da capacidade da organização de estabelecer relações com indivíduos e organizações de todos os setores da sociedade. Os dirigentes de Organizações da Sociedade Civil devem ter duas funções primordiais:
ØExercer seu papel de liderança;
ØSer gestores competentes.

Sustentabilidade é um processo, não um estado que se atinge e se mantém.
ØAvalie constantemente se está no caminho certo.
ØLembre-se que está lidando com pessoas e não apenas com instituições.
ØTrabalhe para a formação de parcerias e não, apenas, a busca de doadores.
A sustentabilidade tornou-se um tema preponderante neste início de milênio, um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos,capaz de reacender a esperança em um futuropossível, com dignidade, para todos. A sustentabilidade não tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia; tem a ver com a relação que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza.

'Que sabe o rio disso e que sabe a árvore? E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?''Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.'
Fernando Pessoa


Artigo de Moacir Gadotti

professor titular da Universidade de São Paulo e diretor do Instituto Paulo Freire.

Artigo resultante de diversos debates promovidos em encontros e congressos, em particular: a Conferência Continental das Américas, realizada em Cuiabá (MT), em dezembro de 1998; o Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, organizado pelo Instituto Paulo Freire, com o apoio do Conselho da Terra e da UNESCO, realizado em São Paulo, de 23 a 26 de agosto de 1999, e o I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia, realizado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Portugal, de 24 a 26 de março de 2000.


Venho acompanhando o tema da educação ambiental desde 1992, quando representei a Internacional Community Education Association (ICEA) na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), chamada de Cúpula da Terra, que elaborou e aprovou a Agenda 21. No Fórum Global 92, na mesma época, participei, ao lado de Moema Viezer, Fabio Cascino, Nilo Diniz e Marcos Sorrentino, da coordenação da Jornada Internacional de Educação Ambiental, que elaborou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.
Três décadas de debates sobre 'nosso futuro comum' deixaram algumas pegadas ecológicas, tanto no campo da economia quanto no campo da ética, da política e da educação, que podem indicar-nos um caminho diante dos desafios do século XXI. A sustentabilidade tornou-se não só um tema gerador preponderante neste início de milênio para pensar o planeta, mas também um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperança em um futuro possível, com dignidade, para todos.
O cenário não é otimista: podemos destruir toda a vida no planeta neste milênio que se inicia. Uma ação conjunta global é necessária, um movimento como grande obra civilizatória de todos é indispensável para realizarmos essa outra globalização, essa planetarização, fundamentada em outros princípios éticos que não os baseados na exploração econômica, na dominação política e na exclusão social. O modo pelo qual vamos produzir nossa existência neste pequeno planeta decidirá sobre a sua vida ou a sua morte, bem como a de todos os seus filhos e filhas. A Terra deixou de ser um fenômeno puramente geográfico para se tornar um fenômeno histórico.
Os paradigmas clássicos, fundados em uma visão industrialista predatória, antropocêntrica e desenvolvimentista, estão esgotando-se, não dando conta de explicar o momento presente e de responder às necessidades futuras. Precisamos de um outro paradigma, fundado em uma visão sustentável do planeta Terra. O globalismo é essencialmente insustentável. Ele atende primeiro às necessidades do capital e depois às necessidades humanas. E muitas das necessidades humanas a que ele atende tornaram-se 'humanas' apenas porque foram produzidas como tais para servirem ao capital.
Precisamos de uma 'Pedagogia da Terra', uma pedagogia apropriada a esse momento de reconstrução paradigmática, apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz. Ela vem constituindo-se gradativamente, beneficiando-se de muitas reflexões que ocorreram nas últimas décadas, principalmente no interior do movimento ecológico. Ela se fundamenta em um paradigma filosófico (Paulo Freire, Leonardo Boff, Sebastião Salgado, Boaventura de Sousa Santos, Milton Santos, Aziz Ab’Sáber, Thomas Berry, Fritjop Capra, Edgar Morin) emergente na educação que propõe um conjunto de saberes/valores interdependentes. Entre eles podemos destacar:
Educar para pensar globalmente: na era da informação, diante da velocidade com que o conhecimento é produzido e envelhece, não adianta acumular informações. É preciso saber pensar. E pensar a realidade, não pensamentos já pensados. Daí a necessidade de recolocarmos o tema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, das metodologias, da organização do trabalho na escola.
Educar os sentimentos: o ser humano é o único ser vivente que se pergunta sobre o sentido de sua vida. É necessário educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido em cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos, e não apenas porque pensamos. Somos parte de um todo em construção.
Ensinar a identidade terrena como condição humana essencial: nosso destino comum é compartilhar com todos nossa vida no planeta. Nossa identidade é ao mesmo tempo individual e cósmica. É preciso educar para conquistar um vínculo amoroso com a Terra, não para explorá-la, mas para amá-la.
Formar para a consciência planetária: é preciso compreender que somos interdependentes. A Terra é uma só nação e nós, os terráqueos, os seus cidadãos. Não precisaríamos de passaportes. Em nenhum lugar na Terra deveríamos considerar-nos estrangeiros. Separar primeiro de terceiro mundo significa dividir o mundo para governá-lo a partir dos mais poderosos; essa é a divisão globalista entre globalizadores e globalizados, o contrário do processo de planetarização.
Formar para a compreensão: é necessário formar para a ética do gênero humano, não para a ética instrumental e utilitária do mercado. No mesmo sentido, é necessário educar para se comunicar, não comunicar para explorar, para tirar proveito do outro, mas para compreendê-lo melhor. A Pedagogia da Terra funda-se nesse novo paradigma ético e em uma nova inteligência do mundo. Inteligente não é aquele que sabe resolver problemas (inteligência instrumental), mas aquele que tem um projeto de vida solidário, porque a solidariedade não é hoje apenas um valor, e sim condição de sobrevivência de todos.
Educar para a simplicidade e para a quietude: nossas vidas precisam ser guiadas por novos valores, como simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartilhar, descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsável frente à cultura dominante, que é uma cultura de guerra, de competitividade sem solidariedade, e passar de uma responsabilidade diluída a uma ação concreta, praticando a sustentabilidade na vida diária, na família, no trabalho, na escola, na rua. A simplicidade não se confunde com a simploriedade e a quietude não se confunde com a cultura do silêncio. A simplicidade deve ser voluntária, como a mudança de nossos hábitos de consumo, reduzindo nossas demandas. A quietude é uma virtude conquistada com a paz interior e não com o silêncio imposto.
É claro, tudo isso supõe justiça, e justiça supõe que todas e todos tenham acesso à qualidade de vida. Seria cínico falar de redução de demandas de consumo, atacar o consumismo, falar de consumismo aos que ainda não tiveram acesso ao consumo básico. Não existe paz sem justiça.
Diante do possível extermínio do planeta, surgem alternativas em uma cultura da paz e uma cultura da sustentabilidade. A sustentabilidade não tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia; tem a ver com a relação que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza. A pedagogia deveria começar por ensinar sobretudo a ler o mundo, como nos diz Paulo Freire, o mundo que é o próprio universo, porque é ele nosso primeiro educador. Essa primeira educação é uma educação emocional, que nos coloca diante do mistério do universo, na intimidade com ele, produzindo a emoção de nos sentirmos parte desse sagrado ser vivo e em evolução permanente.
Não entendemos o universo como partes ou entidades separadas, mas como um todo sagrado, misterioso, que nos desafia a cada momento de nossas vidas, em evolução, em expansão, em interação. Razão, emoção e intuição são partes desse processo, em que o próprio observador está implicado. O paradigma Terra é um paradigma civilizatório. E, como a cultura da sustentabilidade oferece uma nova percepção da Terra, considerando-a como uma única comunidade de humanos, ela se torna básica para uma cultura de paz.
O universo não está lá fora. Está dentro de nós. Está muito próximo de nós. Um pequeno jardim, uma horta, um pedaço de terra é um microcosmos de todo o mundo natural. Nele encontramos formas de vida, recursos de vida, processos de vida. A partir dele podemos reconceitualizar nosso currículo escolar. Ao construí-lo e ao cultivá-lo, podemos aprender muitas coisas. As crianças o encaram como fonte de tantos mistérios! Ele nos ensina os valores da emocionalidade com a Terra: a vida, a morte, a sobrevivência, os valores da paciência, da perseverança, da criatividade, da adaptação, da transformação, da renovação... Todas as nossas escolas podem transformar-se em jardins e os professores-alunos, os educadores-educandos em jardineiros. O jardim ensina-nos ideais democráticos: conexão, escolha, responsabilidade, decisão, iniciativa, igualdade, biodiversidade, cores, classes, etnicidade e gênero.
Estamos diante do crescimento incessante e paralelo entre a miséria e a tecnologia: somos uma espécie de sucesso no campo tecnológico, porém muito malsucedida no governo do humano. Vivemos na era da informação, mas não do conhecimento e da comunicação. As tecnologias da comunicação não significam comunicação humana. Por isso, temos necessidade de uma 'esfera pública cidadã' (Jürgen Habermas), uma esfera pública de decisão não-estatal; precisamos, como diz Adela Cortina, de uma 'ética pública cívica', fundada em uma sociedade pluralista (por exemplo, respeitar respostas distintas a perguntas sobre a vida, isto é, praticar o pluralismo ético), na convivência autêntica ('viver juntos e não apenas se justapor'), na construção coletiva ('tarefa a realizar permanentemente, pois os pontos de convergência não são automáticos') e no descobrimento mútuo e no diálogo ('buscar o que temos em comum').
'Carta' significa 'mapa', um mapa para nos guiar nessa travessia conturbada. Nesse sentido, a Carta da Terra precisa ser considerada como um código de ética planetária a nos guiar hoje para um mundo onde predominem os valores da solidariedade e da sustentabilidade, um projeto, um movimento, um processo que pode transformar o risco de extermínio em oportunidade histórica, transformar o temor em esperança. Adotar e promover a prática de seus valores não pode ser apenas o compromisso de estados e nações, e sim de cada ser humano, individual, pessoal, como sujeito da história, como vem promovendo o Manifesto 2000 da Unesco. Precisamos de uma cultura de paz com justiça social para enfrentar a barbárie. Se aceitamos a barbárie, acostumamo-nos a um cotidiano de violência e de insustentabilidade.
No livro Pedagogia da Terra, defendemos a necessidade de uma Carta da Terra associada a um processo de paz, a uma cultura de paz. E, como a Carta da Terra é um documento ético, ela precisa da educação para se tornar cada vez mais conhecida. Contudo, precisamos de mudança não só na consciência das pessoas, mas também de mudanças estruturais no campo econômico, como as propostas pela Agenda 21. A Carta da Terra precisa estar associada à Agenda 21 e ter um grande suporte na sociedade civil. Os governos podem assinar tratados, podem adotar a Carta da Terra, porém não cumprirão suas promessas se a sociedade civil não estiver vigilante e não pressionar os governantes para que eles cumpram o que assumiram. O que foi socialmente construído pode ser socialmente transformado. Um outro mundo é possível. Uma outra globalização é possível. Precisamos chegar lá juntos e, sobretudo, em tempo.

ECOPEDAGOGIA E OS DESAFIOS À EDUCAÇÃO


A INTER E A TRANSDISCIPLINARIDADE

estudos apresentados por ELISE, LEILA, MICHAELA E GUILHERME

Com as problemáticas do meio ambiente (natural e social) e as preocupações em preservar,
em defender a qualidade da Vida, torna-se mais popular as relações entre o organismo vivo e o seu ambiente:
- A Ecologia -
As campanhas se intensificam e as reflexões desencadeiam movimentos sociais para o desenvolvimento da consciência de cidadania local e global, da ampliação da participação política
e da luta pela organização autônoma da população. Mais do que nunca torna-se necessário a dinâmica da interdisciplinaridade.
A preservação da vida não é exclusividade de um técnico ou de uma área especializada.

Sua defesa depende do conjunto da população. A busca de alternativas para o seu cuidado deve acontecer no cotidiano da prática social e deve envolver todas as instâncias da sociedade.
Todos devem contribuir com seus conhecimentos, habilidades e atitudes para a superação das problemáticas, para a socialização e racionalização dos bens da humanidade.
Trabalhar e aprender juntos – Eis o grande desafio!
A ideologia a que somos condicionados de ‘cobrar’ de alguém resultados
– governo, chefia, especialistas, etc.,
fragmenta as responsabilidades de modo que chegamos a não acreditar em soluções.
Mesmo com essa necessidade a que estamos condicionados

- de uma centralização na coordenação dos trabalhos -

o fazer juntos num movimento interdisciplinar acontece.
Porém, urge a necessidade do desenvolvimento de um processo que vai mais além

– A Transdiciplinaridade.
Segundo Basarab Nicolescu (in Weill: 1993) o primeiro a usar o termo "transdisciplinaridade" foi Jean Piaget na década de 70, dando a seguinte definição:

"No estágio das relações interdisciplinares, podemos esperar o aparecimento de um estágio superior que seria transdisciplinar, que não se contentaria em atingir as interações e reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essa ligações no interior de um sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas".
www.autonomia.com.br/proposta/transdisciplinariedade.php

A Interdisciplinaridade
reúne os sujeitos aprendentes para conhecerem as informações, até então fragmentadas, construindo novo conhecimento e permitindo uma compreensão globalizada para interagirem nas questões.
Há uma mudança de paradigma do trabalho individual para o de equipe.
A Transdiciplinaridade
fortalece uma rede de relações em múltiplas dinâmicas e ações abertas para o conhecimento e solução das problemáticas.
Há o reconhecimento da interdependência de todos os fenômenos da realidade.


" A transdiciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar;
ela faz emergir do confronto das disciplinas novos dados que as articulam entre si; e ela nos oferece uma nova visão da Natureza e da Realidade.

A transdisciplinaridade não busca o domínio de várias disciplinas,
mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e ultrapassa".
Artigo 3, Carta da Transdisciplinaridade, 1994, B.Nicolescu.


“Esta perspectiva inaugura um novo jeito de ver o mundo,
um novo jeito de pensar o ensinar e aprender.”
Morin (2001: 15)

A Ecopedagogia comunga com este jeito de Conviver compartilhado,

que se fortalece no Fazer do diálogo intercultural

e se abre á singularidade e á integralidade do Ser.

ECOPEDAGOGIA E A EDUCAÇÃO POR PROJETOS


estudos apresentados por ENIDES, MÁRCIA, MARCIA, MICHELE

O método de projetos é geralmente considerado um meio pelo qual os estudantes podem desenvolver independência e responsabilidade, prática social e modos democráticos de comportamento. É a consolidação de um novo paradigma educacional em que prevaleçam a ética, a reflexão, o diálogo e a ação para a formação de cidadão críticos e cuidadores na transformação do seu meio ambiente.
É um processo de construção do conhecimento onde o estudante fala, explica, argumenta, ao mesmo tempo que manipula, desenha, interpreta, comunica, discute o seu ponto de vista com os outros. Percorre assim quatro momentos importantes:
a)Formula a pergunta mais adequada;
b)Faz a investigação;
c)Responde à pergunta;
d)Comunica o que vê ou pensa.
Um projeto educativo é um plano de trabalho integrado, estruturando a partir de interesses e necessidades compartilhados por educadores e educandos, de forma organizada e intencional, visando satisfazer necessidades e resolver problemas reais.
Tereza Tortorelli de Lorenzo, educadora Argentina
UMA PROPOSTA QUE VEM AO ENCONTRO DAS NECESSIDADES E TEMAS ATUAIS:
•PROTAGONISMO
•INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE
•TRABALHO EM EQUIPE
•REDE DE TRABALHO

Ecopedagogia e Educação Sustentável

"De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, um sonho, uma ponte, da procura, um encontro."

Fernando Pessoa

Até agora, tentamos mostrar, de um lado, as categorias que pode nos ajudar hoje, na leitura do mundo da educação, do futuro e , de outro, o movimento sócio-histórico, no qual a ecopedagogia surgiu. O movimento ecológico e o da Carta da Terra fazem parte dele. Esperamos que tenham ficado claras, pelo menos duas categorias de pedagogia da Terra: planetaridade e sustentabilidade . O referencial teórico prático da ecopedagogia, porém é mais amplo. Como demonstra Francisco Gutiérrez e Cruz Prado, há um novo paradigma em gestação, no qual se inspira a ecopedagogia. Segundo Leonardo Boff (1999), existem dois modos de ser-no-mundo : o trabalho pelo qual modelamos e intervimos no mundo, e o cuidado, pelo qual nos sentimos responsável por ele. O cuidado exige ternura, carinho, afeto, compaixão e renúncia ao seu domínio, e "serve de crítica à nossa civilização agonizante e também de princípio inspirador de um novo paradigma de convivialidade" (Boff, 1999, p.13). Eles não são modos de ser antagônicos. Eles são complementares e podem constituir-se na base de sustentação da ecopedagogia entre outros. Essa travessia de milênio caracteriza-se por um enorme avanço tecnológico e também por uma enorme imaturidade política: enquanto a Internet nos coloca no centro da era da informação, o governo humano continua muito pobre, gerando misérias e deterioração. Podemos destruir toda a vida do planeta. Quinhentas empresas transacionais controlam 25% da atividade econômica mundial e 80% das inovações tecnológicas. A globalização econômica capitalista enfraqueceu os Estados nacionais, impondo limites para sua autonomia, sobordinando-os à lógica econômica das transnacionais. Gigantescas dívidas externas governam países e impedem a plantação de políticas sociais equalizadoras. As empresas transnacionais trabalham para 10% da população mundial, que se situa nos países mais ricos, gerando uma tremenda exclusão. Esse é o cenário da travessia, um cenário ainda mais problemático pela falta de alternativas. Os paradigmas clássicos estão se esgotando. Não conseguem explicar essa travessia, muito menos passar por ela. Há uma crise inteligibilidade, diante da qual muitos falsos profetas e charlatões oferecem soluções mágicas. Uma nova espiritualidade surge muito bem aproveitada pelas merco-religiões. A resposta dada pelo estatismo socialista burocrático e autoritário é tão ineficiente quanto o neoliberalismo do deus mercado é injusto e, como diz Ladislau Dowbor (1998, p.11), não correspondem "às novas exigências de regulação social". O neoliberalismo propõe mais poder para as transnacionais e a esquerda estadista, para o Estado, reforçando as suas estruturas. No meio de tudo isso está o cidadão comum, que não é nem empresário nem Estado. A resposta parece estar além desses dois modelos clássicos: fortalecer o controle cidadão diante do Estado e do mercado e a capacidade de a sociedade governar-se e controlar o seu desenvolvimento. Aqui entra o papel importante da educação, da formação para a cidadania ativa. Terão desaparecido as utopias de libertação dos anos 60? Alguns sustentam hoje que precisamos retomá-las . Elas fracassaram justamente porque estavam certas: a modernidade que elas denunciavam sufocou a subjetividade (socialismo real) e o seu fracasso prova a necessidade de continuar o mesmo combate por um mundo justo, produtivo, num ambiente sustentável. Os anos 60 não teriam terminado e o novo paradigma não seria tão novo. Boaventura de Souza Santos, em seu livro Pela mão de Alice, nos propõe uma saída: a "democracia ecossocialista". Para ele, no final do século, a única utopia possível era a utopia ecológica e democrática justamente porque chegamos ao limite entre um ecossistema finito e uma acumulação capitalista tendenciosamente infinita. "O paradigma capital expancionista [grifo do autor] é o paradigma dominante e tem as seguintes características gerais: o desenvolvimento social é medido essencialmente pelo crescimento econômico; o crescimento econômico é contínuo e assenta na industrialização e no desenvolvimento tecnológico virtualmente infinitos; é total a descontinuidade entre a natureza e a sociedade, [...] a produção que garante a continuidade da transformação social proposto por Marx partilha as três primeiras características, pelo que se pode considerar um modelo subparadigmático, situado na zona cinzenta, intermediária. O paradigma ecosocialista [grifo do autor] é o paradigma emergente e, tal como eu o concebo, tem as seguintes características: desenvolvimento social afere-se pelo modo como são satisfeitas as necessidades humanas fundamentais e é tanto maior, a nível global, quanto mais diverso e menos desigual; a natureza é a Segunda natureza da sociedade, e como tal, sem se confundir com ela, tampouco lhe é descontínua; deve haver um estrito equilíbrio entre três formas principais de propriedade: a individual, a comunitária e a estatal [...] (SANTOS, 1995, p. 336). Boaventura de Souza Santos afirma que o paradigma ecosocialista assenta em tradições muito variadas como o socialismo utópico e o marxismo, bem como em tradições não européias como as culturas hindus, chinesas e africanas, a cultura islâmica e as culturas dos povos nativos americanos. Reunidos em Cuiabá (MT), no início de dezembro de 1998, delegados de todos os países da América Latina iniciaram o processo de sistematização da Carta da Terra Latino-Americana, lançando uma minuta de referência na qual afirmam que a "ética impulsará a integração das dimensões social, econômica, política, ambiental e cultural, como fundamentos do desenvolvimento sustentável". Os signatários desse documento comprometem-se a guiar sua vidas pelos seguintes princípios:
1- Respeito: A terra, a vida, a espiritualidade e a diversidade cultural.
2- Solidariedade: Traduzida em práticas de apoio, cooperação, comunicação e diálogo.
3- Igualdade: Para a eliminação das desigualdades por meio da democratização de oportunidades, a satisfação das necessidades humanas de gerações presentes e futuras e a superação de todo o tipo de discriminação.
4- Justiça: Para afirmar os direitos e deveres da humanidade e toda a sua diversidade.
5- Participação: Para fortalecer a democracia, garantir a governabilidade, facilitando ao autodeterminação ao tomar decisões.
6- Paz e segurança: Não unicamente com a ausência de violência, se não com o equilíbrio das relações humanas e também com a natureza.
7- Honestidade: Como base para afiançar a transparência e confiança.
8- Conservação: Para garantir a existência de vida e da Terra e a preservação do patrimônio natural, cultural e histórico.
9- Precauções: Com a obrigação de prever e tomar decisões com base no curso de ação que cause menos danos e menor impacto.
10- Amor: Como fundamento para uma relação harmoniosa e afetiva que fomente o compromisso e a responsabilidade com a ação. Esse é um exemplo do processo da Carta da Terra, que está gerando novas atitudes e comportamentos como resultado de um movimento que ultrapassa a educação formal e que, aos poucos, vai constituindo essa necessária cultura de sustentabilidade. A prática e a cultura político-ecológica estão consagrando um novo paradigma e servindo de quadro teórico também para a pedagogia da Terra. Outros valores e compromissos vão se construindo, no processo, por um planeta e uma vida mais sustentável, levados à frente pelo movimento ecológico, tais como (KRANZ, 1995, p. 35-9):
1- Prevenção : É mais barato prevenir a degradação do que consertar o estrago.
2- Precaução: Avaliar as conseqüências, o impacto ambiental de uma ação.
3- Cooperação de todos no planejamento e na implementação de ações ambientais (participação).
4- Compromisso com a melhoria contínua, dentro do ecossistema.
5- Responsabilidade: Os governos locais são responsáveis perante as comunidades que servem.
6- Transparência e democracia: A comunidade deve ter o controle. Podemos dizer que há uma comunidade sustentável que vive em harmonia com o seu meio ambiente, não causando danos a outras comunidades, nem para as de hoje, e nem para as de amanhã. E isso não de pode constituir apenas num compromisso ecológico, mas ético-político, alimentado por uma pedagogia, isto é, por uma ciência da educação e uma prática social definida. Nesse sentido, a ecopedagogia, inserida nesse movimento sócio-histórico, formando cidadãos capazes de escolherem os indicadores de qualidade do seu futuro, se constitui numa pedagogia inteiramente nova e intensamente democrática.
Onde buscar um referencial teórico para a pedagogia da Terra?
Quais são os seus fundamentos?
As referências dessa pedagogia são ainda imprecisas e bebem em diversas fontes.
Paulo Freire é uma dessas fontes. Ele pode ser considerado um dos inspiradores da ecopedagogia com o seu método de aprendizagem a partir do cotidiano. São princípios fundamentais da pedagogia freireana:
1- Partir nas necessidades dos alunos (curiosidade).
2- Relação dialógica professor-aluno.
3- Educação como produção e não como transmissão e acumulação de conhecimentos.
4- Educação para a liberdade (escola cidadã e pedagogia de autonomia).

Esses princípios estão presentes nos primeiros escritos sobre ecopedagogia. Algumas das instituições originais de Paulo Freire, de ontem, parecem inspirar a ecopedagogia de hoje:
1- A ênfase nas condições gnosiológicas da prática educativa.
2- A defesa da educação como um ato de diálogo no descobrimento rigoroso, porém, sua vez, imaginativo, da razão de ser das coisas.
3- A noção de uma ciência aberta às necessidades populares.
4- Um planejamento comunitário e participativo. Como afirma Ladislau Dowbor no prefácio do livro À sombra desta mangueira, Paulo Freire, num universo de tantas inovações tecnológicas, nos chama a atenção para a sombra da mangueira , o ar puro, a água limpa, a rua para passear e brincar, a fruta tirada do pé, pisar na grama descalço...

O capitalismo tem necessidade de substituir essas felicidades gratuitas por felicidades vendidas e compradas. Paulo Freire reclama a volta a essas felicidades, a volta ao ser humano completo, com os cheiros, os sabores da mangueira, da vida completa, cheia de emoções e de solidariedade. Do que vimos até agora podemos afirmar que são princípios da ecopedagogia, d uma pedagogia da terra:
1- O planeta com uma única comunidade.
2- A Terra como mãe, organismo vivo e em evolução.
3- Uma nova consciência que sabe o que é sustentável, apropriado, faz sentido para a nossa existência.
4- A ternura para com essa casa. Nosso endereço é a Terra.
5- A justiça sociocósmica: a Terra é um grande pobre, o maior de todos os pobres.
6- Uma pedagogia biófila (que promove a vida): envolver-se, comunicar-se compartilhar, problemizar, relacionar-se, entusiasmar-se.
7- Uma concepção do conhecimento que admite só ser integral quando compartilhado.
8- O caminhar com sentido (vida cotidiana) .
9- Uma racionalidade intuitiva e comunicativa: afetiva, não instrumental.
10- Novas atitudes: reeducar o olhar, o coração.
11- Cultura da sustentabilidade: ecoformação. Ampliar nosso ponto de vista. As pedagogias clássicas eram antropocêntricas. A ecopedagogia parte de uma consciência planetária (gêneros, espécies, reinos, educação formal, informal e nào formal). Ampliamos o nosso ponto de vista. Do homem para o planeta, acima de gêneros, espécies e reinos. De uma visão antropocêntrica para uma consciência planetária, para uma prática de cidadania planetária e para uma nova referência ética e social: a civilização planetária. Vivemos numa época de transição paradigmática da sociedade e da escola. A chamada "esquerda" está em crise de busca, dentro de suas convicções, de um novo quadro teórico, que supere o dilúvio neo-liberal atual. Isso significa que devemos abandonar os nossos sonhos de igualdade e justiça e decretar o fim da história? Não. Ao contrário, nesse contexto de crise pardigmática, precisamos fazer valer as nossas utopias de sempre, como o espaço público não estatal, criado por iniciativas, entre outras, como a do orçamento principativo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A descentralização, a autonomia e a participação também são aceitas pelos neoliberais. Porém eles as utilizam com outra lógica de poder. Nós a utilizamos na construção da contra-hegemonia neo-liberal. Os referenciais devem ser buscados tanto na teoria como nas práticas concretas de um novo paradigma que é ao mesmo tempo filosófico e sócio-histórico. As relações entre Estado e sociedade estão evoluindo no sentido indicado por Habermas no que se chama de "paradigma da ação comunicativa" e que Paulo Freire chama de "paradigma da ação dialógica". A parceria entre Estado e movimentos sociais populares, como a que foi realizada pela Prefeitura Municipal de São Paulo (1989-92) com o Programa Mova-SP (Movimento de Alfabetização da Cidade de São Paulo), é uma demonstração disso (GADOTTI, 1996). O paradigma do conflito (Marx) que orientava nossa ação durante o capitalismo concorrencial parece menos eficaz hoje, no contexto do capitalismo monopolista e globalizado, do que o paradigma da ação comunicativa (Habermas). Talvez precisemos articular ambos, já que a crise não apenas de paradigmas, mas da própria noção de paradigma como uma visão totalizadora do mundo. Afirmar a necessidade de ação comunicativa não significa que negamos a existência dos conflitos de classe. Eles continuam existindo enquanto houver classes sociais. Apenas que a participação citadina, diante das tradições estatistas, centralizadoras, patrimoniais e dos padrões de relação clientelistas, meritocráticos, no Estado moderno, tornou-se um instrumento mais eficaz para reforçar os laços de solidariedade e criar a contra-hegemonia, do que nossas antigas estratégias de fortalecimento burocrático do Estado. Entre o Estado mínimo e o Estado máximo, existe o Estado "necessário", como costuma dizer o nosso colega do Instituto Paulo Freire, o cientista-político José Eustáquio Romão. O Estado pode e deve fazer muito mais do que se refere à educação ambiental. Mas, sem a participação da sociedade e uma formação comunitária para a cidadania ambiental, a ação do Estado será muito limitada. Cada vez mais, neste campo, a participação e a iniciativa das pessoas e da sociedade é decisiva. Não se pode dizer que a ecopedagogia representa já uma tendência concreta e notável na prática da educação brasileira. Se ela já tivesse suas categorias definidas e elaboradas, ela estaria totalmente equivocada, pois uma perspectiva pedagógica não pode nascer de um discurso elaborado é que nasce de uma prática concreta , testada e comprovada. Assim, o que podemos fazer no momento é apenas apontar algumas pistas, algumas experiências, realizadas ou em andamento, que indicam uma certa direção a seguir. E esperar que os pesquisadores atentem para essa realidade, investiguem-ma, possam compreendê-la com mais profundidade e elaborar a sua teoria.

PROJETOS
Além dos exemplos apontado acima, gostaria de mencionar mais dois: o trabalho desenvolvido no município de Diadema (São Paulo) e o realizado pela Creche Oeste da Universidade de São Paulo. São exemplos singelos entre centenas de outros semelhantes que poderíamos citar. O projeto Uma fruta no quintal , da prefeitura Municipal de Diadema, distribui aos alunos de escolas de ensino fundamental , sementes gratuitas de árvores frutíferas, proliferando mais verde na cidade e conscientizando as crianças sobre a importância das árvores e a necessidade de melhorar o meio ambiente. Toda uma programação que envolve teatro, discussão nas escolas, festividades, danças, etc. envolve a implantação do projeto, visando a formação da consciência ecológica. As mães de alunos são convocadas para cursos de reaproveitamento de alimentos, recebendo uma cartilha e aprendendo a reutilizar sobras, cascas de alimentos e utilizar as frutas da época. É um exemplo, entre tantos que poderiam ser citados, da importância da escola e do papel do Estado na educação ambiental. "É urgente que os processos educativos sejam mais abrangentes e essenciais cuidando prioritariamente da implantação da consciência humana, possibilitando a percepção profunda de nossa condição de guardiães da vida na Terra. A consciência ecológica emergirá espontaneamente quando o sentido da universidade for tocada, ou seja, quando cada criatura sentir-se verdadeiramente vinculada a todas as formas de vida e aos mistérios da existência [...] A criança traz em si o forte vínculo com a natureza e está espontaneamente aberta para tornar-se aprendiz de seus ensinamentos, basta que seja orientada para isso. A infância é um terreno fértil para desenvolver o aprendizado da harmonia entre as diversas formas de vida na Terra"(Izenildes Lima, Coordenadora da Ações educativas da Fundação Terra Mirim, in IPF, 1999, p.19). A Creche Oeste da USP atende filhos de funcionários, de docentes e de alunos com idade de 4 meses e 7 anos. Com restos d comida que sobram das refeições das crianças, esta creche criou uma composteira (projeto USP recicla). Os restos orgânicos correspondem a 90% dos resíduos da creche. Todos os integrantes desta creche estão envolvidos neste processo de transformação de algo que era desprezado , "jogado fora", em algo que fortalece e condiciona o solo. Crianças e adultos participam de todas as etapas do processo de compostagem, desde a separação dos resíduos orgâncicos até o ensacamento do composto já pronto e com cheiro de terra. Assim , refletem sobre o desperdício, sobre a reutilização de algo que era desprezado, vivenciam valores e sentimentos de cooperação e efetivamente preservam e melhoram o meio ambiente. O filósofo francês Michel Maffesoli (1976) nos falar de poder e potência, indicando pela primeira, o exercício da dominação político-econômica, e pela Segunda, a resistência pela sociedade civil que se manifesta positivamente pela participação. Exemplo como os citados acima, brevemente descritos, nos mostra um movimento vivo e que parece representar muito bem essa potência. Eis um outro exemplo singelo e diferente dessa potência, nascido de uma consciência planetária. Na semana de 5 de junho de 1996, Dia Mundial do Meio Ambiente, foi distribuído um cartão-postal dos professores e estudantes, de Itabirito (MG), com os seguintes dizeres: Rio São Bartolomeu Bartolomeu foi o nome de batismo, era belo e límpido, junto de ti brincavam as crianças, bebia a criação, lavavam as mães as roupas. Cresceu e tornou-se São Bartolomeu. Andei nas suas margens e em suas águas. Vi turvos os nossos olhos, malcheirosos os nossos lixos, estúpidas as nossas atitudes. És o reflexo de nós mesmos. Esta é a sua singularidade - refletir o que está
Poesia também é luta! Muitos são os meios e espaços possíveis para construção de um planeta saudável. Nós os encontraremos mais facilmente se tivermos consciência ecológica. Todos os espaços são válidos para isso. Qualquer lugar do planeta, porque, como diz Fernando Pessoa... "Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no universo [...] por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura". As experiências surgidas em muitos lugares e que indicam o aparecimento de um novo movimento - por uma ecoeducação - caracterizam-se pele espontaneidade e pela diversidade.
Veja se ainda o caso da "escola da terra" da fundação Peirópolis, dedicada à "promover a agricultura e pecuária do futuro", adequando a sua proposta de "valores humanos" às atividades rurais e levando modernos conhecimentos ao jovem do campo, orientados pelos princípios do ecodesenvolvimento. Ela ajuda a construir uma base sólida, transformadora e humana nas comunidades rurais. A escola da terra tem sua primeira unidade em Peirópolis (Uberaba, MG) e outras em diferentes partes do país. Escolhendo tecnologias centradas na manutenção da vida, a escola da terra tem cursos programados em módulos de uma semana, recebendo os participantes em regime de imersão, internato e semi-internato. Os alunos ficam hospedados num ambiente acolhedor, com comida farta e saudável, numa convivência que promove a integração, a articulação de idéias, a troca de exepriência e a criação de projetos. Em julho de 1999, com base na obra de Francisco Gutiérrez e na consulta de vários membros no Instituto Paulo Freire, elaborei uma primeira minuta de referências da carta de ecopedagogia. Essa primeira versão agradou muito a Francisco Gutiérrez. Ela foi submetida aos primeiros inscritos do primeiro encontro internacional da Carta da Terra na perspectiva de educação organizado pelo Instituto Paulo Freire com apoio do Conselho da Terra e da UNESCO (São Paulo, 23 a 26 de agosto de 1999). Dessa consulta em inicial, saiu uma nova versão. Os participantes do encontro internacional durante 3 dias, debateram essa nova versão da carta, fizeram muitas sugestões, e criaram um movimento pela ecopedagogia, indicando o Instituto Paulo Freire, para secretariá-lo. A minuta da carta da ecopedagogia, por indicação dos participantes daquele encontro, continuam como um documento aberto, um instrumento de trabalho para a construção de uma pedagogia da terra. Para dar prosseguimento ao debate, incluo-a neste texto como leitura no final do capítulo. Nesse encontro internacional, além dos debates teóricos, muitas experiências foram discutidas. Destaco aqui algumas delas, na expressão de seu expositores (IPF, 1999). Essa listagem mostra que o movimento pela ecopedagogia está nascendo forte, enraizando em práticas concretas.
O projeto Formação para a Cidadania Ativa, do Pacs, vem formando agentes de desenvolvimento local como moradores/trabalhadores do bairro da taquara, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, desde 1996, articulando três eixos: geração de renda, educação e comunicação e articulação local.
O projeto planeta azul, da zona oeste da cidade de São Paulo busca semear idéias, implementar e implantar propostas, compartilhar experiências voltadas para a relação do homem com a sua morada, o planeta Terra. Concretamente isto se dá por parcerias com órgãos governamentais, como secretarias de meio ambiente, coordenadorias, delegacias de ensino, movimentos populares, visitas constantes às escolas públicas estaduais, municipais, particulares [...], refletindo temas como recursos naturais, coleta seletiva e reciclagem, poluição, desmatamento, violência, consciência corporal, animais em extinção, consumismo e valores éticos [...] numa perspectiva transdisciplinar , formando a consciência ecológica e planetária. O projeto Escuela Verde do centro El Canelo de Nos, em San Bernardo (Chile), desenvolve um curso anual para jovens, capacitando-os como agentes da sociedade civil para que possam enfrentar problemas ambientais localmente, isto é, nas comunidades em que residem. Seu diretor Roberto Orozco Canelo, considera que "a ecopedagogia se constitui numa ferramenta fundamental que pode favorecer a mudança de atitude e de conduta das novas gerações, em relação à base de um desenvolvimento harmônico que esteja em concordância com a perdurabilidade da vida em nosso planeta" (IPF, 1999, p.11).
A Organização Brhama Cubaris de São Paulo possui um projeto chamado Vivendo valores na educação, dirigido principalmente para a escola de educação básica, com o objetivo de conscientizar a comunidade escolar sobre a importância de refletir e praticar os valores humanos na vida diária, dentro e fora da sala de aula, e gerar um ambiente sadio na escola com reflexos na vida familiar. Esses valores são: paz, liberdade, amor, união, honestidade e respeito. O programa de educação ambiental da Associação Projeto Roda Viva, do Ri ode Janeiro, desenvolve uma metodologia de monitoramento da qualidade da água do parque estadual da Pedra Branca (RJ) em parceria com uma entidade canadense. O monitoramento representa a utilização de um instrumento educacional, comum aos dois países, capaz de estimular a investigação científica, pelo conhecimento da qualidade da água, e produzir uma série de dados comparáveis entre si, possivelmente de utilidade internacional. Com intercâmbio de experiências, métodos de valores sociais e culturais, este projeto traz na sua concepção o forte intuito de promover uma rede de pessoas de organizações interessadas em, partindo de uma ação local concreta, estabelecer conexões que permitem a elevação da consciência ambiental. A Sociedade para a Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba (Sodemap), no estado de São Paulo, vem desenvolvendo projetos de educação ambiental junto à escolas de educação infantil, principalmente da periferia, sob a forma de experiências lúdicas expressas em linguagem oral, escrita, corporal, musical e plástica, aproximando educação ambiental e educação infantil. Esses projetos constituem-se em expressão coletiva, cultural e festiva, de defesa de uma base ética de cuidados com a natureza, e as pessoas e da difusão de ações para garantir a proteção e o desenvolvimento da criança.
O projeto Tom da Mata, programa a educação ambiental do canal futura de televisão, estimula o desenvolvimento de atividades de proteção ao meio ambiente, em especial da mata Atlântica - e educação musical, utilizando diferentes materiais educativos, métodos e inovações pedagógicas. A obra do maestro Tom Jobim, e seu interesse pela mata Atlântica são a base do projeto. Além da programação disponível a todos, os educadores de 400 escolas que integram o projeto recebem capacitação e material de apoio técnico e pedagógico para o desenvolvimento das ações na escola e comunidade.
O projeto ecologia interativa é desenvolvida a 7 anos pela fundação Terra Mirim, de Salvador (BA), resultante de sua vivência e convívio comunitário. A fundação considera que a natureza externa ao ser humano e a cultura surgida a partir da ação do homem sobre ela, tem correspondência com a natureza íntima, de cada ser, e que a cura do planeta passa necessariamente pela cura do homem em todos os níveis, seu corpo físico (Terra) ,seu corpo emocional (água), seu corpo mental (ar) e seu corpo espiritual (fôlego).
O projeto Escola Bosque, do Centro de Referência e Educação Ambiental do Amapá, promove alterações substanciais na rede formal de ensino, da educação infantil ao ensino médio, ao criar o método sócio-ambiental para o ensino de disciplinas comuns e que, por força de exigência constitucional, formam a grande curricular de escolas bosques, acrescida de matérias tais como biologia, botânica, zoologia e línguas (francês, inglês e espanhol) para formação de um sistema de ensino que complete a visão harmônica e didática do homem e da natureza). A rede mulher de educação têm uma longa tradição de trabalho com a educação popular ambiental, articulando profissionais universitários e de ONGs em trabalho conjunto com escolas, principalmente de periferias de áreas de mananciais. Como relata Maria Ruth Takahashi ( IPF, 1999, p.33) , "neste processo, a educação ambiental têm sido de extrema importância para o envolvimento da população na construção de alternativas para os conflitos de uso e ocupação do solo, para o desenvolvimento e implantação de projetos de regeneração, em fim, na preservação da qualidade ambiental e para melhoria para a qualidade da vida [...] .A intenção maior deste proposta é de resgatar experiências, reforçar iniciativas, possibilitar trocas, e criar um espaço regional de articulação ao mesmo tempo que se reveja as práticas educacionais tradicionais e se rediscuta o papel da escola. No caso específico das áreas de mananciais, é imprescindível que se entenda problemas como o do lixo, do esgotamento de águas servidas, e de desbarrancamentos, e as propostas de políticas públicas". Como se vê, a quase totalidade dos exemplos acima citados, provém da área de educação ambiental .
O movimento pela ecopedagogia encontra nessas práticas alimento para sua trajetória de consolidação de um novo paradigma educacional. Ao mesmo tempo, essas práticas ganham uma dimensão maior, ultrapassando a dimensão ambientalista e local, compreendidas dentro de uma visão mais totalizadora do mundo. Esse encontro de projetos e vivências de educação ambiental, com a reflexão teórica, mas geral, foi um dos pontos mais positivos do Primeiro Encontro Internacional sobre a Carta da Terra na Perspectiva da Educação, realizada em São Paulo , em 1999. Não há prática sem reflexo sobre a prática e não há teoria educacional válida sem referência a uma prática. A pedagogia da terra só se consolidará pela reflexão sobre essas práticas, um movimento histórico-social associado a uma nova corrente de pensamento, fundada na ética, numa política do humano, numa visão sustentável da educação e da sociedade. O movimento pela ecopedagogia está apenas dando os primeiros passos, mas já está fazendo história.

Partes do texto de Moacir Gadotti: A Pedagogia da Terra: Ecopedagogia e educação sustentável