
Tem amanhecer, cinzento, com vento forte e até agressivo, de chuva torrencial, de lama, em vez de passarinho cantando: trovões, raios ameaçadores, filhos chorosos, companheiro ausente mesmo presente... Aprendi, que nestes dias é fundamental nascer, porque na fragilidade a vida clama... perceber a possibilidade de vida nos momentos mais duros é reconhecer o sentido de fazer parte da “Pacha-Mama”, da Pátria Grande, da Mãe Terra. Para ser sincera, mesmo com esse lindo amanhecer, tive a capacidade de dizer que o dia parecia xoxo, em seguida me dei conta do quanto mesquinha foi minha afirmação, senti o quando ainda mora em mim armadilhas de não-viver, o quanto preciso estar atenta para poder renascer todos os dias. “educar minha Esperança”, foi o que o grande Educador Paulo Freire viveu e por isso ensinou: a esperança precisa ser educada. Reafirmo a necessidade de ser consciente, pois “ser consciente é a forma radical de ser dos seres humanos”. Consciente da necessidade de manter a paixão pela vida, estar apaixonado por alguém, com certeza é muito importante, no entanto não é e nem pode ser tudo. Esse alguém é apenas parte da Vida que clama. Eu não tenho o que reclamar da vida. Estou tendo todas as possibilidades de manter a minha paixão, que é tão ampla e cada vez mais se amplia. Cada vez mais me sinto incapaz de acomodar-me no que já aprendi, no que já fui capaz de ensinar, no que já conheci... cada vez mais sinto o apelo da profundidade, da radicalidade do “ser consciente”, de continuar educando minha esperança para não desacreditar nas pessoas que me cercam, que de mim algo esperam, que não é migalha, compaixão, mas o melhor que posso dar. Minha Mãe conta 42 anos do nascimento de sua 6ª filha e 8º filho dos 11 que teve. Eu, com 42 do primeiro nascimento, conto 3, sim, conto 3 porque é assim que sinto após perder 16 companheiros e ter eu com mais alguns sobrevivido ao trágico acidente de 11 de julho de 2008, nas terras de Rondônia. Sinto-me impelida a acreditar que não estou de passagem, tenho uma missão, faço parte de um plano bem arquitetado de construção do “Bem-Viver”. Ao chegar na sala de trabalho, uma linda planta: Lírio da Paz sobre minha mesa, redonda, onda tantas reuniões de trabalho acontecem, com um cartão personaliza, com uma foto de nossa última mobilização, quase me tiraram o fôlego... muitos abraços, carinho, parabéns. Como não ser uma amante incondicional da vida? Como relaxar no processo de educação de minha esperança? Como não me dispor a partilhar todo o que pude aprender na caminhada, com tantas pessoas? Como me negar a namorar a vida? “Ir vivendo” não faz parte de mim, não pode fazer parte... De mim faz parte a intensidade, a paixão, o desejo do “Ser mais”, da busca inevitável de viver todos os risco para ser e fazer outros felizes, da incansável e necessária busca do “inédito viável”, do desvelar a realidade para conhecê-la e conhecendo transformá-la. Concordo plenamente com Jorge Bucay que diz: “Para se estar satisfeito, ativo, e sentir-se jovens e felizes, é preciso namorar a vida”.
Gratidão pela Vida!
Lurdes Marta Santin
Educadora Popular/Pedagoga
Canoas, 27 de setembro de 2011.